Título: Ex-chefe da Abin acusa CPI de passar por cima da lei
Autor: Tânia Monteiro
Fonte: O Estado de São Paulo, 15/07/2005, Nacional, p. A9

O ex-diretor-geral da Agência Brasileira de Inteligência (Abin) Mauro Marcelo de Lima e Silva disse ontem ao Estado que a CPI dos Correios desrespeitou a legislação ao exigir que o agente Edgar Lange depusesse em sessão aberta. Foi justamente esse assunto que levou à sua saída da Abin no dia anterior, causada pela repercussão da mensagem que distribuiu aos 1.700 funcionários da agência, pela rede interna de computadores, na qual afirmava que os integrantes da CPI eram "bestas-feras em pleno picadeiro".

Apesar de ter pedido afastamento, Mauro Marcelo insistiu em que a CPI errou. "A CPI desrespeitou a lei que protege o agente, lei que eles mesmos votaram." Argumentou, ainda, que o trabalho dos agentes fica comprometido se têm a sua identidade revelada. Por isso, reiterou, era contra Lange depor.

O delegado volta à Polícia Civil de São Paulo e diz não estar magoado. "Está tudo bem, não tinha jeito mesmo. Eu tinha mesmo de deixar o cargo porque a Abin não pode gerar crise, ela existe para evitar crise." Mas ele se defende, alegando que foi "mal interpretado". "Fui conferir de novo no dicionário e o sentido figurado da expressão é que foi desumana a forma como o agente foi tratado. Não estou chamando deputado de besta-fera."

Marcelo ressaltou que a Abin não fez gravações nos Correios. "Não tivemos participação nenhuma", disse, reclamando que os parlamentares "não entenderam a função da Abin".

Ontem, a Associação dos Servidores da Abin divulgou nota responsabilizando o Gabinete de Segurança Institucional (GSI) pela divulgação da mensagem, para derrubar Marcelo. De madrugada, a Abin divulgou em seu site "nota de esclarecimento" que classifica a convocação de Lange para depor de "fato inusitado na história da atividade de inteligência".

RESGATE

Preocupado com o desgaste da Abin com o episódio, o ministro-chefe do GSI, general Jorge Armando Félix, fala em recuperar a imagem do órgão. "É preciso tirar as lições com o que aconteceu e continuar trabalhando em defesa da atividade de inteligência, que tem sido muito maltratada", disse ele.

O futuro da Abin só será decidido quando o presidente Lula voltar da França. Auxiliares do presidente acreditam que o substituto deverá ser um nome técnico, discreto. Com isso, Félix se fortaleceu no cargo e poderá até fazer o sucessor de Marcelo, que poderá ser o interino José Milton Campana.

Félix disse que tentou junto à CPI que a sessão para ouvir o agente Lange fosse sigilosa, mas, em votação, o pedido foi negado.