Título: Para Gil, 'crises vêm e passam, como nuvens'
Autor: Cida Fontes
Fonte: O Estado de São Paulo, 15/07/2005, Nacional, p. A10

De férias na Europa, o ministro da Cultura, Gilberto Gil, convenceu o presidente Luiz Inácio Lula da Silva a falar para a multidão na Praça da Bastilha, na noite de quarta-feira, no show "Viva Brasil", com a participação de vários artistas brasileiros. "Não preciso falar, Gil", disse o presidente, cansado depois de cumprir uma agenda exaustiva. "Diga, fale pelo menos alguma coisa que signifique que o senhor está levando daqui uma energia interessante para aplicar no seu trabalho, no seu dia-a-dia", insistiu o ministro. O argumento foi forte e Lula se curvou: "Está bom, vou falar."

Antes do baile na Bastilha, como os franceses chamam a festa, Gil já havia se encontrado com Lula em outros eventos oficiais. "Achei-o melhor do que esperava", observou. "Falavam de mau humor, o que seria justificável, mas não. Ele está bem."

Longe do Brasil desde o início do mês, Gil buscou saída mística para a crise política. "A tendência é dissipar. As crises vêm e passam como nuvens." E filosofou: "O extremo yin gera o extremo yang. A extrema crise gera a sua superação."

Ao lado de Gil, Lula foi ovacionado e teve momentos de glória na Bastilha, símbolo da revolução francesa, com o alto astral da festa. Gil chorou. "Choro muito", observou ontem, depois de contar que se emocionou também com os "dobrados militares" do desfile, na Praça da Concórdia, a que assistiu ao lado do escritor Paulo Coelho, convidado da comitiva presidencial.

"Se a gente não emociona mais é porque já estamos mortos", comentou Gil, quando a banda dos fuzileiros navais do Brasil abriu o desfile do 14 de julho, uma das homenagens do Ano Brasil na França.

Depois do desfile, Gil e Coelho se encontraram para um cafezinho. Ambos acham que a crise política no Brasil será superada. "Todo processo de crescimento envolve dor e o chamado acerto e erro", disse o escritor.

Gil deixou claro que está mesmo de férias, apesar de convocado para acompanhar comitiva de Lula. O cantor não está na Casa de Hóspedes do governo francês como outros ministros, mas no Plaza Athenée, um dos mais luxuosos hotéis de Paris. Gil não tinha certeza se acordos na área de cinema com a França estão em fase final de assinatura. Já fez nove shows na Europa e esta semana vai ao interior da França, Grécia e outros países, para 12 apresentações.