Título: Para Delgado, reforma é inútil
Autor: Vera Rosa, Tânia Monteiro
Fonte: O Estado de São Paulo, 13/07/2005, Nacional, p. A5

Deputado diz que mudança no ministério não vai dar certo

O deputado Paulo Delgado (PT-MG) declarou-se claramente contrário à maneira como são feitas as indicações e nomeações no governo do presidente Lula. Ele revelou grande descontentamento com a reforma ministerial promovida pelo governo. "Não vai dar certo. Pode durar um ano, sei lá. Como um Scania descendo a ribanceira, pode cair carga pelo caminho, essas coisas. O que devemos buscar é um avanço na liberdade e na transparência, e parar com essa república de cargos e partilhas", afirmou ontem o deputato, em entrevista à rádio CBN, em São Paulo. Para Delgado, o presidente Lula deveria convocar o seu ministério e pedir que ele parasse de fortalecer as corporações dentro do governo. "Esse ministro é ligado àquele, o outro é ligado a não sei que setor, tem que parar com isso. Sou crítico, mas não me sinto fora dessa crítica. Corro riscos, e penso que os ministros deveriam exercer seus cargos, e não preservá-los".

Na opinião de Delgado, o PT não compreendeu bem as mudanças pela qual o País passou nos últimos anos. Mudanças que, segundo ele, são incompatíveis com os "predadores" e com a partilha doEstado. "O governo tem que chamar as pessoas para ocupar os cargos por seus projetos e programas. Quem quiser cargo em troca de apoio ao governo tem que ser investigado previamente", sentenciou.

Durante a entrevista, Paulo Delgado mostrou-se avesso ao que ele chama de "carreiras solo" no PT, que produzem projetos individuais, como nos casos da reeleição na câmara dos deputados e na sucessão de São Paulo. "Acabou essa idéia de que nós do PT somos a freira no bordel brasileiro. Somos um partido comum. Quem se acha melhor, é melhor até sair do PT".

Outra questão que parece incomodar o deputado são os incessantes gastos com publicidade. Durante o governo anterior, de Fernando Henrique Cardoso, o deputado apresentou um projeto segundo o qual eventuais cortes no orçamento nas áreas ministeriais teriam cortes equivalentes na publicidade. O projeto, à época, teve grande apoio do partido. "Mas agora, estranhamente, não interessa mais. Nós viemos aqui para mudar. Mas não estamos conseguindo mudar", concluiu.