Título: 'Não conseguirão me dobrar, vão ter de ganhar no voto'
Autor: Vera Rosa, Tânia Monteiro
Fonte: O Estado de São Paulo, 13/07/2005, Nacional, p. A5

Em reunião ministerial, Lula pede a colaboradores que não fiquem na defensiva e diz que deve ser candidato à reeleição

BRASÍLIA - O presidente Luiz Inácio Lula da Silva afirmou ontem que a crise política não vai paralisar seu governo, como quer a oposição. Mais: disse que não aceitará "mutreta" para que as regras do jogo sejam alteradas agora, na tentativa de impedir um segundo mandato do PT. "Não vão conseguir me dobrar", advertiu. "Não me dobro facilmente. Se insistirem para eu não ser candidato à reeleição (em 2006), aí é que vou ser. Vão ter de me ganhar no voto." As afirmações do presidente foram feitas durante reunião ministerial realizada ontem, logo após as mudanças anunciadas na equipe. Apesar do terremoto dos últimos dias, Lula pediu aos colaboradores que não fiquem acuados.

"O governo não pode ficar na defensiva. Somos diferentes, vamos falar para a sociedade, vamos agir. Temos uma história e não podemos aceitar o padrão de crítica que estamos recebendo da oposição. Temos o que mostrar, temos bons resultados", destacou.

Lula disse que, se decidir não concorrer à reeleição, será por sua vontade, e não a pedido dos adversários. Contrariado com o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso que, recentemente, aconselhou-o a não disputar novo mandato, Lula mandou recado aos tucanos. "Sempre respeitei Alckmin e Aécio", observou, numa referência aos governadores de São Paulo, Geraldo Alckmin, e de Minas, Aécio Neves, ambos do PSDB e interessados em sua cadeira.

Em pouco mais de uma hora de conversa com os ministros, o presidente admitiu que governo e PT erraram na estratégia para sair da crise. Na avaliação de Lula, o PT demorou a se explicar após as denúncias do deputado Roberto Jefferson (PTB-RJ), que acusou o partido de pagar mesada a deputados da base aliada em troca de apoio ao governo no Congresso. O Planalto, por sua vez, errou ao não apoiar de pronto a CPI dos Correios.

Na presença do novo presidente do PT, Tarso Genro - que deixará o Ministério da Educação no próximo dia 27 -, Lula insistiu que o partido precisa resgatar a identidade perdida. "É importante que a verdade apareça, seja ela qual for", disse. Mais uma vez, o presidente garantiu que as investigações estão sendo feitas e que não poupará ninguém. Assegurou, ainda, que a nova direção do PT vai "arrumar" o partido. Depois, anunciou que o líder do PT na Câmara, Paulo Rocha (PA), deverá ser substituído. O nome de Rocha aparece, ao lado de outros 10 parlamentares, na agenda do publicitário Marcos Valério, acusado por Jefferson de ser o operador do "mensalão".

FILHO NÃO

Em outro trecho da reunião, Lula se emocionou. Foi quando citou seu filho Fábio Luís Lula da Silva, de 30 anos. Nos últimos dias, a imprensa noticiou que a Telemar fez um aporte de R$ 5 milhões na Gamecorp, empresa de Fábio Luís e dos irmãos Kalil e Fernando Bittar, filhos do ex-prefeito de Campinas Jacó Bittar. O investimento inicial dos sócios era de apenas R$ 200 mil, mas a Telemar entrou no negócio e bancou tudo.

Ao falar do assunto, Lula classificou a denúncia de "estapafúrdia" e disse confiar em seu filho. "Ele nunca se meteu em confusão", observou. Para o presidente, a tentativa de envolver sua família na crise é "um golpe baixo".

No fim do encontro, o ministro da Fazenda, Antonio Palocci, leu dados da pesquisa realizada pelo Instituto Sensus, em parceria com a Confederação Nacional dos Transportes, indicando que as denúncias de corrupção nos Correios e a crise do mensalão não afetaram a popularidade de Lula. Todos aplaudiram. Cauteloso, o presidente ressalvou que pesquisas são "relativas e frágeis". "Tudo pode mudar muito rapidamente", ponderou.