Título: 'Não serei a CUT no ministério'
Autor: Leonencio NossaIsabel Sobral
Fonte: O Estado de São Paulo, 13/07/2005, Nacional, p. A7

Marinho promete diálogo com todos os movimentos sindicais; Lula diz que ministro do Trabalho não precisa reinventar a roda

BRASÍLIA - O novo ministro do Trabalho, Luiz Marinho, garantiu ontem que buscará o diálogo com todos os movimentos sindicais e não apenas com a Central Única dos Trabalhadores (CUT), da qual foi presidente até o início desta semana. "O conjunto das centrais, o conjunto do movimento sindical, pode ter tranqüilidade que não serei o presidente da CUT à frente do Ministério do Trabalho. Serei o ministro do Trabalho do governo Lula para encaminhar projetos do governo", afirmou, no discurso de posse no Palácio do Planalto. A idéia foi corroborada pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que em seu discurso disse que o "companheiro" não precisa "inventar a roda", apenas manter relação harmônica com todos os pensamentos do movimento sindical. "Ele sabe que não estará aqui como ministro da CUT, estará como ministro do Trabalho." Anteontem, a CUT organizou ato no Planalto de apoio ao presidente. Já as centrais Força Sindical, Social Democracia Sindical e Central Autônoma dos Trabalhadores não quiseram participar do evento, acusando o Planalto de tentar organizar uma claque.

Na posse, Marinho disse que a recuperação do valor do salário mínimo será sua bandeira no ministério. Mas avisou que não entrará em choque com a equipe econômica. "Teremos um trabalho de sintonia para construir um mínimo decente."

Lula disse que a trajetória de Marinho no sindicalismo lembrava o roteiro do filme A Classe Operária vai ao Paraíso, clássico do cinema político italiano dos anos 70, do cineasta Elio Petri. "Acho que a classe operária está vindo ao governo de forma sóbria, madura", avaliou.

"O Marinho chega ao ministério depois de provar nas comissões de fábrica, no sindicato dos metalúrgicos e na CUT a capacidade de negociação política para defender os interesses dos trabalhadores. Posso dizer que Marinho faz isso com maestria", afirmou. "Não invente nada mais do que aquilo que você aprendeu na vida, aquilo que você fez no sindicato, o tipo de harmonia que você estabeleceu na CUT." Marinho é o terceiro sindicalista a ocupar o posto, depois de Jaques Wagner e Ricardo Berzoini, que saiu ontem.

COBRANÇAS

O presidente avisou Marinho que "daqui a pouco" ele estará "apanhando" da imprensa e recomendou que tenha paciência com as críticas. "Todos nós estamos calejados, preparados. Eu digo sempre, nunca tivemos momentos fáceis na nossa vida, nunca", disse. "Não conheço um momento na minha vida em que uma conquista não foi às custas de sacrifício, com lágrimas, suor e sangue." Mas ele advertiu que o novo ministro não deve se preocupar com as cobranças. "As cobranças servem para alertar a gente de que é preciso fazer algo mais, é preciso às vezes dar respostas."

No discurso, Marinho se comprometeu a retomar o debate da proposta de reforma sindical no Congresso. E disse que pretende trabalhar no governo propostas que defendeu na militância sindical. "Mas com a compreensão de que o papel é completamente diferente."

Entre elas está adotar uma política permanente de valorização do salário mínimo, o que enfrenta resistência da equipe econômica. Marinho defende uma política que vincule o crescimento da economia a um reajuste gradual do mínimo.

Para ele, o projeto aumentaria a distribuição de renda e não contraria a política econômica. "E o Antonio Palocci (ministro da Fazenda) está aqui e sabe perfeitamente bem que não é assim. Nós teremos, certamente, um trabalho em sintonia para construir um salário mínimo decente", afirmou, dirigindo-se ao colega, que estava na platéia.