Título: Nordeste pega menos dinheiro do BNDES
Autor: Alberto Komatsu
Fonte: O Estado de São Paulo, 15/07/2005, Economia & Negócios, p. B3

O alto custo dos financiamentos do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) está deixando de fora regiões mais carentes do País. De 2001 até o ano passado, o Nordeste viu sua participação no total de desembolsos da instituição cair quase pela metade: de 12,9% para 6,8%, uma queda de 45,7%, segundo cálculo do Instituto Brasileiro de Análises Sociais e Econômicas (Ibase). Diretor de Planejamento do BNDES, Antonio Barros de Castro admite que é um "problema grave" a queda amargada pelo Nordeste. Ele lembra a agravante de o Estado da Bahia concentrar 60% dos financiamentos concedidos pelo banco nos últimos anos, o que mostra que a instituição é competitiva apenas em projetos de grande porte. Segundo Castro, contribuiu para isso a a criação, em 1988, do Fundo Constitucional de Desenvolvimento do Nordeste (FNE), que empresta para as micro e pequenas empresas do semi-árido nordestino à taxa de 7,4% ao ano.

"Nosso dinheiro é muitíssimo mais caro. Estamos fora desse mercado, assim como o Banco do Brasil e o Bradesco", reconhece Castro.

Para ele, o crescimento dos desembolsos do BNDES ao Centro-Oeste também ajudaram a comprimir a participação da Região Nordeste. "Daqui para a frente, estão surgindo grandes projetos fora da Bahia, como a Transnordestina e a transposição de águas do Rio São Francisco. O jogo é capaz de mudar um pouco", afirma.

Dia 5, cerca de 40 Organizações Não-Governamentais vão se reunir com a diretoria do BNDES para cobrar uma ação mais proativa da instituição. Será discutida a necessidade de a instituição ampliar os financiamentos para regiões mais carentes do País.

Chamou a atenção das ONGs o levantamento feito pelo Ibase, que levou em conta os desembolsos do BNDES realizados em dois anos da gestão Fernando Henrique e outros dois anos do mandato do presidente Lula. "Não é saudável termos os desembolsos do BNDES concentrados em apenas uma região. Se olharmos o banco como instrumento do desenvolvimento social, era de se esperar que ele tivesse mais sensibilidade", diz o pesquisador do Ibase Carlos Tautz.

Em 2001, quando o BNDES era presidido por Francisco Gros, o Nordeste recebeu 12,9% dos financiamentos do banco (R$ 3,334 bilhões). No ano seguinte, quando era presidido por Eleazar de Carvalho Filho, a proporção caiu para 9,9% .