Título: Brasil teve maior inflação do Mercosul em 2004
Autor: Jacqueline Farid
Fonte: O Estado de São Paulo, 15/07/2005, Economia & Negócios, p. B5

O Brasil acumulou a maior inflação entre os países do Mercosul em 2004, informa o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) em levantamento que inclui o Chile, além dos países do bloco. O Índice de Preços ao Consumidor Harmonizado (IPCH) foi divulgado simultaneamente, ontem, em cinco países e mostrou que o Brasil é o único país entre os investigados no qual o transporte tem peso maior que a alimentação no orçamento das famílias. O novo índice revela ainda que as crises cambiais e as tarifas administradas (eletricidade e telefone, entre outros) tiveram os principais impactos para o orçamento das famílias do Mercosul - Uruguai, Paraguai, Argentina e Brasil - e do Chile de 2000 a 2004.

"Fica nítida a associação entre a elevação das taxas de inflação no Brasil, na Argentina e no Uruguai no momento em que esses países tiveram uma crise cambial. É possível observar uma correlação entre os problemas cambiais na região e a inflação nos países", destacou Eduardo Nunes, presidente do IBGE.

O IPCH foi calculado a partir dos indicadores oficiais de inflação de cada país, pelos institutos nacionais de estatística. Ainda que alguns itens que compõem a cesta de produtos desses índices oficiais tenham ficado de fora do cálculo, mais de 90%, na média, foram incluídos.

No caso do Brasil, foi usado o Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) e 94% dos produtos da cesta de compras foram computados na taxa harmonizada. Em 2004, o Brasil acumulou um IPCH de 7,7%, praticamente igual ao IPCA (7,6%) do período.

A taxa brasileira harmonizada no ano passado foi superior às registradas na Argentina (6%), no Chile (2,6%), no Paraguai (2,9%) e no Uruguai (7,3%). Por outro lado, a inflação medida pelo IPCH no acumulado de 2000 a 2004 foi maior no Uruguai (63,2%). O Brasil ficou em segundo lugar (53,5%).

Ao longo dos cinco anos pesquisados, o índice mostrou que os períodos de crise cambial resultaram em escalada inflacionária. No caso do Brasil, a maior inflação registrada nos cinco anos pesquisados ocorreu em 2002 (IPCH de 13%), por causa da disparada do dólar no ano eleitoral.

Na Argentina, a crise cambial reverteu uma deflação de 1,8% em 2001 para uma inflação de 42,4% em 2002. Também no Uruguai, que foi contaminado pela crise do câmbio argentina, a inflação disparou para 27% em 2002.

A coordenadora de índices de preços do IBGE, Márcia Quintslr, destacou também a estabilidade da inflação no Chile nos anos pesquisados, com índice acumulado (IPCH de 16,1%), bem inferior ao dos demais países.

No caso das tarifas administradas, apenas a Argentina apresentou reajustes pouco expressivos em serviços como energia elétrica e gás no período. No Brasil, as tarifas de energia elétrica, segundo o IPCH, tiveram reajuste acumulado de 112,0% de 2000 a 2004.

No Paraguai chegou a 114,5%, no Chile, a 53,4% e no Uruguai, a 86,6%. Na Argentina, o reajuste da energia elétrica - que estão congeladas há alguns anos - no período não ultrapassou 1,5% e as de gás somaram 31,5%. No Brasil, a tarifa de gás teve aumento de 126,4%.