Título: Fim da reeleição cabe a Lula, diz PSDB
Autor: Guilherme Evelin
Fonte: O Estado de São Paulo, 13/07/2005, Nacional, p. A9

Partido decide que não assumirá proposta de emenda constitucional com a finalidade de "mudar a regra no meio do jogo"

BRASÍLIA - O PSDB não assumirá a proposta de uma emenda constitucional para acabar com a reeleição de presidentes da República, decidiu ontem a executiva nacional do partido. De acordo com o discurso oficial dos tucanos, qualquer iniciativa dessa natureza com o objetivo de debelar a crise política terá de partir do governo Lula. A reunião da executiva teve a participação do prefeito de São Paulo, José Serra, que articulou a aprovação dessa tese. "Não sou favorável a qualquer mudança nas regras do jogo. Qualquer iniciativa para propor o fim da reeleição terá de partir do governo", disse Serra, após o encontro. O fim da reeleição passou a ser discutida por alguns setores do PSDB e do governo como uma possível alternativa para frear a crise política, depois da seqüência de denúncias sobre as relações obscuras entre o PT e o publicitário Marcos Valério Fernandes de Souza. O ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, em entrevista à revista Exame, foi o primeiro a defender o abandono do projeto de reeleição pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva como uma saída para a crise. Em seguida, a proposta de uma emenda constitucional passou a ser defendida por outros dirigentes tucanos como o líder do partido no Senado, Arthur Virgílio (AM).

Ontem, a idéia de uma emenda de fim da reeleição com o patrocínio do PSDB foi rechaçada, por unanimidade, pelos integrantes da executiva nacional do partido. "Isso não é saída para a crise", refutou o chefe da Casa Civil do governo de São Paulo, deputado Arnaldo Madeira. Além de dividir o partido, a proposta foi arquivada pelos tucanos por receio de que ela pudesse ser interpretada pela opinião pública como uma manobra eleitoreira. O partido não quer misturar as investigações da CPI dos Correios com a discussão da sucessão de Lula.

AGENDA

À espera dos desdobramentos das investigações em curso, o PSDB deverá também adiar para 2006 a definição do candidato do partido ao Palácio do Planalto, antes prevista para o fim deste ano. A prioridade, segundo os tucanos, é dar força à CPI. "Para nós, a agenda positiva é a investigação até as ultimas conseqüências. Se não houver essa investigação, toda a classe política e o Congresso vão ficar comprometidos pela ação de alguns", disse Serra. Segundo o presidente nacional do PSDB, senador Eduardo Azeredo (MG), o partido vai reforçar sua assessoria técnica para dar respaldo ao trabalho da bancada do partido na CPI. Uma das providências poderá ser a contratação de consultores externos para auxiliar nas investigações.

De acordo com o líder do PSDB na Câmara, Alberto Goldman (SP), a apuração dos fatos até as últimas conseqüências incluirá, se for o caso, examinar a responsabilidade de Lula nas denúncias. O deputado ressaltou que não haverá atenuantes para o presidente, caso ele esteja envolvido com o suposto esquema do mensalão. "Não há acordo para poupar ninguém", disse Goldman. Na avaliação dos tucanos, o governo, dificilmente, vai conseguir sair da defensiva. "O governo não tem recuperação. Vai ficar nessa agonia até o fim", afirmou o líder do PSDB.