Título: Concessão de franquias era política, revela ex-diretor
Autor: Eugênia Lopes João Domingos
Fonte: O Estado de São Paulo, 13/07/2005, Nacional, p. A11

Controladoria-Geral da União constata 18 irregularidades em 69 contratos e licitações da estatal

BRASÍLIA - Em depoimento à CPI dos Correios, o ex-diretor de Administração da estatal Antônio Osório confirmou que o presidente licenciado do PTB, deputado Roberto Jefferson (RJ), pediu aos diretores indicados pelo partido que ajudassem a fazer caixa para campanhas eleitorais. A idéia era aproximar o PTB dos empresários que tinham contratos com os Correios. Mas Osório garantiu que nunca arrecadou dinheiro como diretor. Ele admitiu ter se reunido com Jefferson mais de 50 vezes desde que assumiu a diretoria dos Correios, em maio de 2004.

Osório disse que não conhecia o publicitário Marcos Valério, apesar de ter assinado aditivo com a agência SMPB, pelo qual o contrato com os Correios saltou de R$ 72 milhões para R$ 90 milhões.

Segundo Osório, que depôs por 5 horas e meia, Maurício Marinho, que era seu subordinado e foi flagrado recebendo R$ 3 mil de propina, mentiu ao dizer que havia esquema para arrecadar recursos para o PTB. "São declarações mentirosas. Nunca fiz isso." O ex-diretor disse que se sentia traído por Marinho, a quem indicou para o cargo.

No depoimento, ele disse que as indicações para ocupar superintendências regionais dos Correios eram políticas, assim como a concessão de franquias da estatal. "Não se concede franquia desde que estou na empresa, mas as que foram feitas antes eram por força política."

QUASE PRISÃO

Depois de Osório a CPI ouviu o ex-diretor de Tecnologia dos Correios Eduardo Medeiros de Morais e quase fez sua primeira prisão. Acusado de falso testemunho, Medeiros só foi poupado por causa dos parlamentares juristas. "Temos o poder de polícia, mas é um poder regimental e não jurídico. O advogado dele pode obter um habeas-corpus e esta CPI pode ficar desmoralizada", argumentou a deputada Denise Frossard (PPS-RJ), juíza aposentada.

Medeiros foi acusado porque mentiu: disse que não conhecia nem falara ao telefone com o dono da Metalúrgica Gadotti Martins, Vilmar Martins. Mas depois confessou que há dois ou três dias o empresário lhe ligou. Segundo o senador Eduardo Suplicy (PT-SP), Vilmar Martins lhe contou que Medeiros teria tentado cobrar propina dele, em dólar, em 1992.