Título: Fábricas reagem, mas sem contratar
Autor: Jacqueline Farid
Fonte: O Estado de São Paulo, 16/07/2005, Economia & Negócios, p. B5

O mercado de trabalho industrial não acompanhou a reação da atividade do setor em maio e permaneceu estagnado. A estabilidade no emprego e na renda foi diagnosticada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), que divulgou ontem uma variação zero na ocupação na indústria em maio ante abril e um crescimento de 2% ante maio do ano passado, a 15.ª taxa positiva consecutiva nessa base de comparação.

O rendimento real apresentou crescimento no mês, especialmente por causa da queda na inflação.

ESTAGNAÇÃO

De acordo com o economista André Macedo, da Coordenação de Indústria do IBGE, trata-se de uma estabilidade.

"O emprego está refletindo a estabilidade na indústria que ocorreu até abril. A aceleração ocorrida em maio ainda não chegou ao emprego, que responde de maneira mais defasada", afirmou.

A estagnação é atribuída por diversos economistas à perda de receita com as exportações, por causa da valorização do real em relação ao dólar.

Marcelo de Ávila, do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) tem a mesma interpretação de Paulo Mol, da Confederação Nacional da Indústria (CNI).

Segundo eles, a ocupação ainda é puxada pelas exportações, a queda do dólar compromete a receita com as vendas externas e, desse modo, inibe contratações.

Marcelo de Ávila avalia que a estabilidade no mercado de trabalho industrial deve prosseguir e seria surpreendente um aquecimento forte das contratações.

O argumento é que a demanda interna não é forte o suficiente para estimular a geração de novas vagas e o dólar em cotação reduzida inibe os investimentos das empresas na mão-de-obra.

EXPORTAÇÕES

De acordo com Mol, as exportações brasileiras permanecem como motor do emprego industrial em 2005 e, como o faturamento das empresas com as vendas externas está caindo, a tendência é que a ocupação do setor fique estável ou até apresente queda no segundo semestre.

"Os setores que mais empregam no momento estão voltados para exportação e estão apresentando queda no faturamento e isso não leva a novas contratações", informou Paulo Mol.

O economista da CNI concorda com a avaliação de Macedo,da Coordenação de Indústria do IBGE, de que os dados do emprego industrial de maio demostram uma estabilidade.

Apesar da estagnação prevista para o segundo semestre no mercado de trabalho do setor, Mol afirmou que o emprego no setor deve fechar 2005 com variação positiva ante o ano passado, mesmo que com resultado inferior ao registrado em 2004 quando, segundo a CNI, a ocupação do setor cresceu 3,5% ante o ano anterior.

Segundo o IBGE, até maio o aumento acumulado foi de 2,6%.

André Macedo destacou que o mercado de trabalho industrial não respondeu imediatamente à reação da produção em maio.

Ele lembrou que o emprego reflete com defasagem os movimentos da atividade e, por isso, será preciso esperar os próximos meses para saber se o aquecimento apurado em maio na produção industrial vai se manter e quais serão os seus efeitos no mercado de trabalho.

O economista do IBGE observou também que ainda não chegaram ao mercado de trabalho, também, os efeitos do aquecimento de setores que dependem mais da demanda interna, que mostraram aumento de ritmo na produção em maio.

RENDA

A folha de pagamento real da indústria voltou a crescer em maio (2,0%) na comparação com o mês anterior, após a queda registrada em abril ante março (2,5%).

Foram registrados resultados positivos para a folha também na comparação com maio de 2004 (6,3%).

André Macedo disse que os dados podem ter sido influenciados pelo recuo do Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), deflator utilizado para o cálculo da renda real, de abril para maio.

Outro impacto positivo no emprego foi o pagamento de bônus na indústria extrativa em maio.