Título: Valério confessa que armou esquema para financiar PT a mando de Delúbio
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Fonte: O Estado de São Paulo, 16/07/2005, Nacional, p. A4

O publicitário Marcos Valério Fernandes de Souza resolveu abrir o jogo: confessou ontem que contraiu "vários empréstimos bancários" em nome de suas agências de publicidade, mas o dinheiro, na verdade, foi para o PT. Disse que o mensalão nunca existiu e que todo o dinheiro que viabilizou foi para o PT. Segundo Valério, "pessoas do PT" iam à agência bancária receber o dinheiro. O esquema foi montado por ele, explicou, a pedido do ex-tesoureiro do partido, Delúbio Soares. O dinheiro, segundo o publicitário, foi usado para pagar dívidas de campanha que o PT tinha contraído antes de 2003 e para fazer caixa para a campanha do partido nas eleições municipais de 2004. Em entrevista ao Jornal Nacional, da TV Globo, e em nota que distribuiu à imprensa, ele disse que o esquema de empréstimos e saques durou de julho de 2003 a maio deste ano.

Ele não revelou os nomes dos petistas que foram à agência receber dinheiro e das empresas favorecidas por depósitos, mas disse que todos eram indicados por Delúbio e que os nomes estão disponíveis no banco.

EMPRÉSTIMOS VULTOSOS

Valério explicou que houve "vários empréstimos", e eles foram "vultosos", mas não esclareceu o número de operações, nem seus valores. Também não contou o trato que teria feito com o partido para receber os valores dos empréstimos.

O publicitário informou apenas que, por enquanto, as suas empresas vão se responsabilizar pelos valores, enquanto ele negocia com a nova direção do PT a forma de ser ressarcido do dinheiro. Segundo Valério, desde os primeiros empréstimos, a justificativa que lhe foi apresentada foi que o PT estava "com muitas dificuldades financeiras".

Valério contou que aceitou tomar os empréstimos e dar avais porque havia um grau de confiança muito grande entre ele e Delúbio, mas disse que em nenhum momento o ex-tesoureiro do PT ajudou as suas empresas na relação com o governo.

INTERLOCUTOR

Valério explicou que não revelou os empréstimos à CPI dos Correios porque tinha sido apenas o avalista inicial. "As pessoas que me pediram é que tinham de se pronunciar. Quando eu vi que as coisas estavam tomando uma proporção completamente equivocadas, tive de falar com as pessoas. Mas aí eu perdi a interlocução porque as pessoas saíram. Delúbio não é mais o tesoureiro", afirmou.

Segundo ele, "nunca houve malas" para transportar o dinheiro. "Tudo era feito dentro das agências bancárias", completou.

O presidente da CPI dos Correios, senador Delcídio Amaral (PT-MS), disse ontem que Valério detalhou ao Procurador-Geral da República, Antonio Fernando Souza, todos os empréstimos feitos para PT, mas negou a existência do mensalão. Delcídio disse que receberá segunda-feira cópias dos depoimentos de Valério e Delúbio na Procuradoria.