Título: Embrapa prepara seu grande salto
Autor: Agnaldo Brito
Fonte: O Estado de São Paulo, 17/07/2005, Economai & Negócios, p. B8

Empresa que revolucionou o cultivo em região tropical quer renovar seus quadros e incorporar tecnologias de última geração

BRASÍLIA - A Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa), maior criadora de tecnologia para a agricultura tropical, negocia com os Ministérios da Agricultura, do Planejamento e da Fazenda um amplo plano de reestruturação que vai alterar a relação com o agronegócio brasileiro. A reestruturação inclui programa de demissão incentivada e lançamento de concurso público neste semestre. Além da renovação de quadro, a Embrapa acha que - depois de amparar o avanço do campo - precisa de melhores condições para acompanhar as novidades mundiais do setor, como a agroenergia, bionanotecnologia, mudanças climáticas e gestão de inovação.

O plano da empresa já tem custo definido: R$ 300 milhões. Esse é o preço da Embrapa para custear o novo ciclo de desenvolvimento. Elevação do orçamento dos atuais R$ 877 milhões para algo próximo a R$ 1,2 bilhão.

Silvio Crestana, diretor-presidente da empresa - gestor de um orçamento de R$ 877 milhões (em queda por conta da política de superávit primário do governo) -, diz que em três anos 1.300 funcionários da empresa poderão se aposentar. São 15% do quadro total. Não bastasse isso, é acelerado o êxodo de empregados. Por ano, 7% dos pesquisadores deixam a instituição em busca de salários mais elevados ou seduzidos por planos de carreiras mais vantajosos. Entre os funcionários de nível superior a saída atinge 18%. O grupo de assistentes de operação é o que menos tempo fica na empresa: 21% deixam a Embrapa todo o ano.

"São índices muito elevados, totalmente inadequados para uma empresa do perfil da Embrapa. Pelos levantamentos internos, 88% dos funcionários que deixam a instituição o fizeram por iniciativa própria", explica Crestana. A situação já compromete pesquisa da empresa, admite. O "não" do governo pode comprometer o futuro da empresa.

A primeira iniciativa é a de elevar salários. Um doutor contratado hoje recebe até R$ 3,5 mil com benefícios. Pode, na situação atual, alcançar uma remuneração bruta de R$ 10 mil, nos mais elevados estágios da carreira. Disso dependerá o avanço de 30 estágios, um a cada ano. O plano apresentado ao governo prevê, segundo Crestana, a redução para 20 estágios.

Com salário inicial de R$ 4,5 mil, pesquisadores com nível de doutorado teriam perspectiva de alcançar ao final da carreira salários de R$ 13 mil, valor mais adequado se comparado aos R$ 8 mil atuais. A Embrapa prepara benefício adicional não cumulativo. Uma agência para gestão da inovação terá a função de buscar negócios. A renda obtida com a iniciativa premiaria os quadros por inovações.

A idéia é alternativa, mas há um problema que também entrou na negociação com o governo. A empresa quer a flexibilização orçamentária, sem a qual nenhum recurso obtido fora do Tesouro é considerado renda extra, ou seja, o valor equivalente é retido pelo governo. "O mecanismo desestimula a busca de recursos externos", critica Crestana. É um modelo criado sob os auspícios da política de superávit primário de 4,25%.

A instituição dispõe de reconhecimento mundial por ter desenvolvido uma agricultura na faixa tropical do planeta. Inventou manejos sustentáveis, criou variedades tropicais, é protagonista da revolução agrícola no Centro-Oeste. Entretanto, nada disso traz divisas ao País, exceto pela exportação de alimentos. "O presidente Lula e o ministro Celso Amorim (Relações Exteriores) ressaltam o papel que a Embrapa pode ter no mundo. Mas é questão de escolha. A internacionalização compromete investimentos no Brasil. De fato, é paradoxal", explica Crestana.