Título: Também em sigilo, ex-tesoureiro depõe a procurador-geral
Autor: Vannildo Mendes
Fonte: O Estado de São Paulo, 16/07/2005, Nacional, p. A5

O ex-tesoureiro do PT Delúbio Soares compareceu ontem à Procuradoria-Geral da República para um depoimento espontâneo. Na véspera, o empresário Marcos Valério tinha proposto ao Ministério Público um acordo pelo qual contaria tudo o que sabe em troca de perdão judicial, expediente previsto na lei. Como o acerto desejado pelo empresário foi rejeitado, Delúbio decidiu não pedir o benefício para si próprio. Delúbio depôs em sigilo, durante cerca de duas horas, ao procurador-geral Antonio Fernando de Souza e saiu pelos fundos do prédio, evitando contato com jornalistas. O acordo proposto por Valério foi rechaçado porque o procurador considerou a idéia prematura. As investigações ainda estão em curso e esse tipo de benefício só é concedido quando o réu contribui efetivamente para elucidar o caso. Pesou contra o empresário a descoberta de que documentos de suas firmas estavam sendo queimados, caracterizando eliminação de provas.

Antonio Fernando de Souza comunicou ontem a decisão ao presidente da CPI dos Correios, senador Delcídio Amaral (PT-MS), que esteve na Procuradoria depois que Delúbio saiu. Delcídio considerou a decisão "sensata" porque, a seu ver, o acordo prejudicaria as investigações do Congresso e poderia produzir clima de impunidade.

Segundo relato do presidente da CPI, Valério declarou formalmente ao procurador que fez empréstimos bancários por orientação de Delúbio, conforme disse depois em entrevista ao Jornal Nacional. As operações seriam para formação de um caixa 2 do PT destinado ao financiamento de campanhas eleitorais.

Delúbio confirmou essa versão em seu depoimento. Nenhum dos dois teria dado os nomes de outros partidos ou parlamentares beneficiados pelo mensalão, conforme Delcídio. Não disseram também se os empréstimos eram para pagar dívidas de campanhas antigas ou se para financiar futuras, como a da reeleição do presidente Lula.

As íntegras dos dois depoimentos serão enviadas à CPI pela Procuradoria da República na segunda-feira. Valério foi inquirido pela comissão parlamentar de inquérito num momento em que ainda julgava ser melhor não dizer o que sabe. Diante de deputados e senadores, adotou discurso cauteloso, que produziu mais dúvidas do que esclarecimentos. Já Delúbio vai depor na CPI na próxima terça-feira, enquanto Valério volta na quarta para ser reinterrogado. Delcídio disse que a íntegra dos depoimentos dos dois ao procurador-geral será de grande utilidade à CPI. "As informações contidas neles são extremamente importantes para comparar com o que já foi investigado e também para instruir os novos interrogatórios", avaliou Delcídio.

O depoimento de Delúbio durou duas horas. Ele se fez acompanhar do advogado paulista Arnaldo Malheiros, que já trabalhou na defesa do ex-prefeito Paulo Maluf.