Título: Senador vê 'relação espúria' e pede a CPI para quebrar sigilo de empresária
Autor: Fausto Macedo
Fonte: O Estado de São Paulo, 16/07/2005, Nacional, p. A6

A CPI dos Correios deve quebrar o sigilo bancário, fiscal e telefônico da empresária Telma dos Reis Menezes Silva. "Existe uma conexão espúria", denuncia o senador Álvaro Dias (PSDB-PR), autor do requerimento para abrir os dados. "São dados que comprovam laços familiares, favorecimento ilícito e tráfico de influência explícito nessa área de publicidade." "O quadro é muito claro", destaca o senador. "Marco Antonio da Silva exerce função importante na Secretaria de Comunicação, ao lado de Luiz Gushiken, e sua mulher é proprietária de uma empresa de eventos que celebra contrato com a MultiAction, do Marcos Valério. A conexão é gritante porque Marco Antonio integra a comissão de licitação dos Correios e opera favoravelmente à agência de Valério."

Para Dias, a operação pode caracterizar violação à Lei da Improbidade Administrativa e corrupção ativa e passiva. "A conivência e a cumplicidade são as marcas desse modelo adotado para definir as licitações da Secom", observou.

O senador anotou que 90% das contratações obedecem a critérios subjetivos: "Apenas 10% respeitam a exigência de menor preço." Para ele, "uma margem tão expressiva de 90% favorece o direcionamento das licitações em benefício de quem interessa favorecer".

Dias pretende identificar todos os contratos em que a MultiAction aparece como contratada dos Correios e de outras estatais. Ele quer rastrear desembolsos efetuados em favor da empresa de Valério e a participação de Telma.

LENTIDÃO

O senador protestou contra a lentidão dos órgãos do governo na entrega de documentos à CPI. "Vejo o presidente Lula como o principal responsável. Quando quem governa não impõe autoridade, é omisso, conivente. O País está perdendo muito e fica essa sensação de impunidade que fez crescer a corrupção", acusou.

Dias defende "a ampliação do raio de ação" da CPI. "É preciso investigar outros segmentos de corrupção, incluindo outras estatais onde a Secom fez imposições. Há muitas denúncias sobre os fundos de pensão e verbas de publicidade."

Dias diz que a ampliação das investigações é importante "até porque as figuras que aparecem no escândalo dos Correios aparecem em outros escândalos". As "figuras", explicou, "são os integrantes da articulação política do governo, os artífices da sustentação política, os idealizadores desse modelo espúrio de relação entre o Executivo e os partidos coadjuvantes do presidente".