Título: 'Economist' vê Lula politicamente ferido
Autor: Christiane Samarco e Cida Fontes
Fonte: O Estado de São Paulo, 16/07/2005, Nacional, p. A9

As grandes expectativas despertadas pela vitória de Luiz Inácio Lula da Silva "tornam as revelações de corrupção no Brasil ainda mais chocantes", diz em editorial a revista The Economist. O texto avalia, também, que a crise deixa o presidente "politicamente ferido" e que a história bem mereceria uma novela, ramo no qual o Brasil é tão famoso. "Ela também oferece muita evidência circunstancial de que, uma vez no poder, o PT, o bastião do governo limpo, começou a se autofinanciar e a comprar a lealdade dos aliados retirando sistematicamente dinheiro das empresas estatais. Se for verdade - o que é negado com veemência -, Lula sabia disso? Se não sabia, como os assessores insistem, ele parece ter ficado muito por fora do que estava acontecendo." Em seguida, observa que as taxas de aprovação popular do governo foram preservadas, principalmente graças à política econômica do ministro da Fazenda, Antonio Palocci, "que obteve estabilidade e crescimento moderado". Mas o escândalo "feriu Lula e seu partido". "Há uma conversa (ainda prematura) de que Lula poderá não buscar um segundo mandato, embora as pesquisas mostrem que ele tem boa chance de vitória."

A revista comenta, no entanto, que essa leitura da crise é equivocada, já que as raízes dela "estão na inocência arrogante de um partido cuja aceitação do capitalismo e os compromissos com a democracia são muito recentes". Vários assessores de Lula "parecem ter levado ao governo duas noções marxistas: que um fim correto justifica meios não santos, e que o partido é superior ao Estado". "Isso parece ter causado uma mistura fatal dos papéis do partido e do governo, e uma exploração cínica do Estado para fins políticos." Mas, para o Economist, se forem tiradas lições corretas, a democracia brasileira e o PT podem emergir mais fortes.

Os problemas do presidente e do PT mereceram também editorial, ontem, do El Clarín, de Buenos Aires. "O governo de Lula se encontra em dificuldades para explicar que, em lugar de renovar a vida política brasileira, tem apelado para as mesmas velhas práticas de clientelismo em troca de apoios políticos", cobra o jornal. A seguir, destaca que "grande parte da confiança e credibilidade obtida pelo PT foi por ter sido um partido alheio às velhas práticas de corrupção".