Título: Virgílio baixa tom, mas mantém crítica
Autor: Christiane Samarco e Cida Fontes
Fonte: O Estado de São Paulo, 16/07/2005, Nacional, p. A9

Um dia depois de dizer no plenário que "ou o presidente Lula era idiota ou corrupto", provocando uma onda de reações de outros parlamentares, o líder do PSDB no Senado, Artur Virgílio Neto (AM), desceu o tom ontem. Em entrevista à Rádio Bandeirantes, ele manteve as críticas, mas amenizou o sentido. "Eu me senti generoso (ao chamar Lula de idiota), porque se eu tivesse dito corrupto eu teria de no momento seguinte pedir o impeachment. Não sou nenhum irresponsável. Eu não quero falar em impeachment." Em seguida, fez até um elogio. "O presidente tem compromisso com algumas coisas que eu acho boas, no âmbito do ajuste fiscal. Vou me permitir fazer um elogio: em plena crise pela primeira vez um presidente sul-americano não opta, quando a crise é ética, quando a crise é moral, quando a crise é de corrupção, atacando o governo dele, não opta pelo populismo econômico. Então acho que isso aí é um sinal de amadurecimento do Brasil. Ele se defende taticamente, se escorando no Palocci e se escorando no bom juízo."

Virgílio disse que foi quem mais fez oposição a Lula, mas estava sendo moderado por causa da crise. "Quando vi uma crise que beirava o institucional, eu digo, vou segurar meus flaps. Eu vou frear, vou me segurar. Porque eu não devo contribuir para jogar gasolina numa fogueira que eu não sei se no final vai ser boa", explicou. "Essa moderação eu retomo hoje."

REAÇÃO

Suas declarações do dia anterior provocaram reações de todo tipo no Congresso. O líder do PFL no Senado, José Agripino Maia (RN), por exemplo, avisou que pretende acirrar a oposição. "Nós vamos endurecer na CPI dos Correios e não vamos poupar ninguém", afirmou. "E não tem acordo. Se a investigação bater no Lula, vai bater."

Agripino avalia que Lula foi "poupado" até agora porque no início da CPI houve sintonia entre governo e oposição na disposição de investigar. "Agora, no entanto, fica claro que os governistas mudaram e estão querendo impedir as investigações."

Já o líder do PDT no Senado, Jefferson Péres (AM), mostrou-se preocupado com o tom das críticas a Lula e disse que os exageros do PT e do governo só pioram a situação. Ele classificou de "nitroglicerina pura" a ida de Marcos Valério ao Ministério Público, pedindo proteção da lei para contar o que sabe.

Mas Péres acha que isso não é motivo para os líderes cruzarem os braços. Ele chamou os líderes dos maiores partidos (PT, PMDB, PFL e PSDB) a buscarem saída para que a crise política não se transforme em crise institucional e econômica. "A blindagem da economia tem limites. É hora de todos os partidos e líderes mais responsáveis buscarem um acordo em torno do que é básico e aí teremos condições de fazer como o Chile, superando a crise política e o impasse econômico", afirmou.

O presidente do PSDB, senador Eduardo Azeredo (MG), assegurou que a questão eleitoral, em que há disputa contra o PT, não orienta as posições de seu partido. Mas acha que está faltando cautela, "o que é perigoso neste momento de crise". A seu ver, para não pôr a estabilidade em risco, arrastando Lula para a crise, é preciso não só que o próprio seja prudente em suas ações, como recomende moderação aos deputados do PT. "Há exageros de lado a lado, tanto por parte do PT e do governo, quanto da oposição, que às vezes excede na retórica."

PETISTAS

Petistas experientes, como o deputado Paulo Delgado (MG), também não escondem a preocupação, mas não responsabilizam a oposição pelo agravamento da crise. "O governo não enfrenta seus problemas com a profundidade, a gravidade e a rapidez necessárias", diz.

Em Paris, mais cedo o presidente do PT, Tarso Genro, disse ter certeza de que Virgílio pensaria bem no que disse na quinta-feira e voltaria atrás. "Acho que isso (o discurso de Virgílio) prejudica a própria oposição. Não prejudica o governo. A oposição se desgasta com isso", afirmou. "Tenho certeza de que ele vai retirar as declarações."