Título: 'Plano de ampliar Conselho caminha para o fracasso'
Autor: Paulo Sotero
Fonte: O Estado de São Paulo, 16/07/2005, Nacional, p. A12

"É um plano ambicioso, que parece destinado a fracassar, apesar de um dos mais intensos esforços de lobby diplomático jamais realizados". Assim o jornal britânico The Guardian descreveu ontem o projeto do G-4 (o grupo formado por Brasil, Alemanha, Índia e Japão) que vai ser votado na próxima semana, na ONU, pelo qual eles pretendem ampliar o número de cadeiras do Conselho de Segurança e tornar-se membros permanentes do grupo. O jornal comenta o encontro marcado entre o G-4 e o grupo africano, provavelmente amanhã, e menciona o comentário feito a respeito por uma alta fonte do próprio Conselho: "É uma loucura. Eles (os quatro países) tomaram um caminho inteiramente errado. É impossível adivinhar como isso poderia acontecer." A loucura a que ele se refere é a tarefa de reunir, em poucos dias, os 128 votos necessários à aprovação, de um total de 191 países-membros.

DIVERGÊNCIAS

O esforço do G-4 foi destaque ontem, também, no The New York Times , onde o repórter Warren Hoge descreveu as divergências entre as várias propostas, a aparição de uma súbita sugestão diferente, assinada por 53 países da União Africana, e a permanente pressão dos Estados Unidos para que o assunto não seja votado agora.

"Os quatro países que organizaram uma ofensiva diplomática para conquistar cadeiras permanentes no Conselho enfrentam uma oposição inesperadamente forte dos Estados Unidos e da União Africana", diz Hoge. "Alarmados com o desdobramento", prossegue ele, "os quatro estão mandando seus chanceleres a Nova York, esta semana, para tentar salvar seus esforços, que estão ameaçados principalmente por uma proposta anunciada na quarta-feira pelos 53 países da União Africana e por uma oposição mais rígida que o esperado, partida dos EUA".

As divergências entre os países-membros parecem irredutíveis. Adversário de qualquer mudança no Conselho, o embaixador do Paquistão na ONU, Munir Akram, criticou "os que procuram privilégios especiais e poder, disfarçados em campeões dos fracos e oprimidos". O embaixador da Argélia, Abdallah Baali, advertiu que o poder de veto e as duas vagas a mais eram itens não-negociáveis pelos africanos.

Mas Baali recebeu,como relata o Times, uma dura resposta do diplomata nigeriano Olu Adeniji, que atualmente preside a União Africana. "Você não submete um esboço a 191 países-membros e diz 'aprovem ou desaprovem'. É uma receita para matar a idéia antes que ela decole", disse ele. De modo curto e rápido, a representante americana, Shirin Tahir-Kheli, avisou: "Vamos ser claros. Os EUA entendem que (o assunto) não deve ser votado agora." Na fórmula atual, o Conselho de Segurança tem 15 membros, cinco permanentes (EUYA, Rússia, França, China e Grã-Bretanha) e dez em rodízio.