Título: Penúria faz baixas de guerra na Marinha
Autor: Roberto Godóy
Fonte: O Estado de São Paulo, 17/07/2005, Nacional, p. A13

Manutenção deficiente de equipamento já fez 5 mortos e 7 feridos graves em 42 dias

A Marinha do Brasil sofreu baixas de guerra: cinco mortos e sete feridos graves em 42 dias, entre 17 de maio e 28 de junho. As três primeiras vítimas estavam a bordo do porta-aviões São Paulo, capitânia da frota, quando uma tubulação do sistema de vapor se rompeu. As duas últimas eram tripulantes, aluno e instrutor, de um helicóptero que caiu sobre o auditório do Instituto Benett, no Rio. Nos dois acidentes, fontes da área técnica do Comando da Marinha creditam as causas às dificuldades financeiras decorrentes de sucessivos cortes e contingenciamentos no orçamento. Os ciclos de manutenção de navios e equipamentos têm sido estendidos "até limites críticos", segundo especialistas. Depois do episódio de 17 de maio, o porta-aviões passou por uma perícia de sete semanas, que concluiu pela necessidade da revitalização de diversos sistemas, entre os quais o da rede de tubulações de vapor. Pelo menos 83 componentes estão em péssimas condições.

Por causa disso, o São Paulo, principal navio da Armada, ficará atracado no Arsenal do Rio pelo menos até março de 2006. Além disso, funcionários civis do complexo industrial dizem que o número de dispositivos em pane e sob ameaça de colapso é superior a 210. Documento interno do sindicato da categoria alerta para "o risco de vazamentos com conseqüências mais danosas" que as verificadas no acidente.

DINHEIRO DE CRISE

As dotações totais aprovadas pelo Congresso para o Ministério da Defesa somam R$ 5,554 bilhões. No entanto, a área econômica do governo trabalha com outra cifra, R$ 4,707 bilhões. "A diferença não existe, é só uma incerteza", diz um almirante, que não pode ser identificado.

O pacote da Marinha, autorizado para os gastos de 2005 prevê R$ 1,117 bilhão. Na prática, isso significa que, mesmo na eventualidade de todo o dinheiro previsto vir a ser desembaraçado, o saldo negativo será de R$ 153 milhões.

A crise não é novidade para o governo. Um relatório do Ministério da Defesa, entregue em 10 de novembro ao então ministro-chefe da Casa Civil, José Dirceu, alerta para o fato do Comando da Marinha ter chegado "ao limite do suportável na contenção de gastos na previsão de 2005". Adiante, o documento informa que "o Poder Naval (do País) está ameaçado de comprometimento".

A exposição relaciona 21 navios desativados nos últimos seis anos por falta de verbas que permitissem a sua recuperação. A fragata Dodsworth, é caso emblemático. Comprada na Inglaterra em meados dos anos 90, foi aposentada com 23 anos de uso. Poderia ser utilizada pelo menos até 2018. Peças e partes dessas unidades desativadas são retiradas e usadas em outros navios.

O relatório destaca, ainda, que "no início do exercício 2004/2005" estavam em utilização 43 helicópteros na força aérea naval, estando groundeados (imobilizados em terra) outros 27.