Título: Incêndio de 68 destruiu o prédio, não os ideais
Autor: Rosa Bastos e Ricardo Brandt
Fonte: O Estado de São Paulo, 18/07/2005, Metrópole, p. C1

Em 1968, uma batalha entre os estudantes da Filosofia e do Mackenzie, de ideologia antagônica, deu o pretexto para a polícia invadir e incendiar o prédio. "Foi o último capítulo da Faculdade de Filosofia na Maria Antônia", lembra o professor do Departamento de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da USP, Franklin Leopoldo e Silva, na época, aluno. A faculdade mudou para a Cidade Universitária, onde os grandes espaços dispersavam mais os estudantes que gás lacrimogêneo. Em 1964, o professor de matemática Ubiratan d'Ambrosio foi para os Estados Unidos e leu nos jornais o que ocorrera na Maria Antônia. "Foi uma dor profunda", escreveu no livro Maria Antonia, uma Rua na Contramão. "Seria apenas a destruição do prédio, não do espírito."

O diretor do Centro Universitário Maria Antônia, Lorenzo Mammi, lembra que o local era quartel-general do movimento estudantil. "Até então havia repressão, mas imaginava-se que a universidade fosse terreno sagrado onde não entrariam."

A Faculdade de Filosofia da USP, que começou a surgir em 1928 como escola de Direito e depois como Colégio Rio Branco, foi tombada pelo Condephaat em 1998 - o que já garantia sua preservação física. O reconhecimento como referência cultural, no entanto, permitiria ações para preservar a memória dos fatos históricos.

Numa lápide de mármore branco, na entrada do centro universitário, está escrito: "Aos que morreram lutando contra a ditadura." É forte, para ninguém esquecer. "Prédio da Filosofia está arrasado", mostra a manchete do Estado de 5/10/68, numa reprodução instalada no primeiro andar. Mas a hora é de reconstrução.

Quando acabar a reforma, o "Mariantonia" - um lugar hoje silencioso, onde se realizam atividades de experimentação artística - dará para uma praça com café e área de acesso ao auditório e ao Teatro da USP. "A idéia é recriar o antigo vínculo entre a cidade e a universidade", diz Mammi.