Título: Oferta ampla de crédito derruba juros de agiotas
Autor: Renée Pereira
Fonte: O Estado de São Paulo, 18/07/2005, Economia & Negócios, p. B3

A explosão de oferta de crédito, especialmente do consignado, derrubou as taxas de juros cobradas pelos agiotas. Levantamento realizado na semana passada pelo Estado revela que os juros médios do crédito informal atualmente estão em 16,8% ao mês ou 544% ao ano. Em novembro de 2004, a taxa média dos financiamentos concedidos pelos agiotas estava em 21,8% ao mês ou 971,2% ao ano, revela pesquisa da Associação Nacional dos Executivos de Finanças, Administração e Contabilidade (Anefac) feita na época. Em seis meses, o recuo nos juros médios foi de 23% ou de 5 pontos porcentuais. O levantamento mostra que a menor taxa cobrada pelos agiotas hoje é de 9,7% ao mês ou 203,4% ao ano, inferior até mesmo à taxa média do empréstimo pessoal concedido pelas financeiras em junho, que foi de 11,85% ao mês ou 283,4%, segundo pesquisa da Anefac. Em novembro de 2004, os juros mínimos no financiamento concedido pelos agiotas estavam em 12% ao mês ou 289,6% ao ano.

Também a taxa máxima encolheu no período. Atualmente está em 23,8% ao mês ou 1.197,4% ao ano, ante 35% ao mês ou 3.564,4% em novembro de 2004. Com isso, a distância entre a maior e a menor taxa, diminui: era em novembro do ano passado de 23 pontos porcentuais e agora é de 14 pontos.

"O maior volume de crédito disponível e as facilidades para obter dinheiro emprestado nas instituições financeiras fizeram com que muitos clientes dos agiotas migrassem para os bancos. Com isso, as taxas do mercado informal caíram", diz o vice-presidente da Anefac, Miguel Ribeiro de Oliveira.

Para o especialista em varejo financeiro, Boanerges Ramos Freire, a questão é de demanda e oferta. Com o aumento dos volumes de crédito disponíveis no sistema financeiro, especialmente o consignado, isto é com desconto em folha de pagamento - cujas taxas são menores porque existe a garantia real -, os juros foram pressionados.

"O crédito consignado reconfigurou o mercado", diz Freire. Com essa forma de financiamento, aposentados e assalariados que eram público cativo dos agiotas passaram a ter acesso ao mercado formal. "Eles não eram tratados com a atenção que recebem hoje dos bancos."

Números do Banco Central (BC) mostram que o crédito está a todo vapor. O total de empréstimos destinado a pessoas físicas somou R$ 134,4 bilhões até maio. O saldo já aumentou 18,7% neste ano e 36,8% em 12 meses. Entre todas as linhas de financiamento do mercado formal, a que mais cresceu nos últimos 12 meses foi o crédito consignado: 120,1%. Em maio, o saldo era de R$ 17,8 bilhões.

Além da maior oferta de financiamentos, a decisão do governo de permitir que os bancos emprestem para consumidores que estão com o nome sujo diminuiu a procura de dinheiro com agiotas e as taxas caíram, diz Oliveira. Em janeiro, o Conselho Monetário Nacional (CMN) autorizou as instituições financeiras a concederem empréstimos a clientes com restrições bancárias e deixou a cargo dos bancos a decisão de escolher quais deles têm condições de honrar os compromissos.

Segundo o vice-presidente da Anefac, o diferencial do agiota era emprestar para quem tinha restrições. Com a decisão do CMN, o mercado informal de crédito perdeu esse cliente. Resultado: a procura e as taxas diminuíram. O movimento de queda dos juros no mercado informal ocorreu depois do período em que a taxa básica de juros, a Selic, hoje em 19,75% ao ano, iniciou uma trajetória ascendente, a partir de setembro de 2004. Freire diz que as taxas do mercado informal não guardam relação direta com a Selic e dependem da demanda e da oferta de crédito.