Título: CPI ouvirá Valério na quinta para desvendar 'Operação Paraguai'
Autor: Expedito Filho
Fonte: O Estado de São Paulo, 18/07/2005, Nacional, p. A4

BRASÍLIA - O presidente da CPI dos Correios, senador Delcídio Amaral (PT-MS), decidiu convocar novamente o empresário Marcos Valério Fernandes de Souza para prestar depoimento à comissão, na quinta-feira. Delcídio não acreditou na versão apresentada por Valério e repetida pelo ex-tesoureiro do PT Delúbio Soares para justificar as operações suspeitas envolvendo o PT e o empresário mineiro. Pela versão divulgada pelos dois, apelidada pelos integrantes da CPI como "Operação Paraguai" por lembrar a Operação Uruguai do governo Collor e ser falsa, R$ 40 milhões teriam sido captados junto ao sistema financeiro pelas empresas de Valério e emprestados para o PT numa espécie de contrato de boca. O dinheiro seria usado para financiar campanhas do PT em caixa 2, mas não haveria pagamento de mensalão.

Delcídio informou ao Estado que combinou a nova convocação de Valério, ontem, com o relator da comissão, Osmar Serraglio (PMDB-PR). Apesar de duvidarem da versão de Valério e Delúbio, Delcídio e Serraglio avaliam que o empresário mineiro vai tentar manter a história diante dos integrantes da CPI. Ambos acreditam, porém, que, pressionados pelas perguntas dos parlamentares, Valério e o próprio Delúbio - cujo depoimento está marcado para quarta-feira - poderão acabar caindo em contradições.

OPERAÇÃO PARAGUAI

Se isso ocorrer, pessoas ligadas a Valério admitem que o empresário poderá desistir de apresentar versões e finalmente contar toda a história. O recado já foi levado à cúpula de vários partidos políticos, entre eles a direção nacional do PT e a direção regional do PSDB de Minas Gerais, com quem Valério manteve relações políticas, além de ter mantido relações comerciais, através de suas empresas de publicidade, com alguns de seus integrantes.

Um advogado, ligado ao empresário, também já passou a mesma informação a caciques da CPI dos Correios.

Para desmontar a chamada "operação Paraguai" e derrubar a versão de Valério e Delúbio, parlamentares de oposição acham necessário seguir a origem e o destino do dinheiro envolvido nas operações. "O caminho é esse. Até falamos como pessoas que estiveram na operação Uruguai do governo Collor, que nos deram dicas importantes para desmontar esta agora", afirmou o deputado Antônio Carlos Magalhães Neto (PFL-BA). A cúpula da CPI também vai manter a convocação de Renilda Fernandes de Souza, mulher do empresário, para falar sobre os negócios com o PT.

Os parlamentares já foram informados de que a filha do publicitário não gostaria ver a mãe exposta. Eles admitem até suspender a convocação de Renilda, Desde que Marcos Valério pare de mentir e conte o que realmente sabe.

Na prática, os integrantes da CPI dizem que na nova versão Valério e Delúbio continuaram omitindo, por exemplo, as operações que demonstravam a influência do empresário junto às estatais e órgãos do governo, como Casa da Moeda e Banco Central. Ele também não fez qualquer menção aos contatos que ajudou a fazer, entre dirigentes do PT, entre os quais o próprio Delúbio e o ex-presidente José Genoíno, com empresas privadas, como a Usiminas. Além disso, nem Delúbio nem Valério assumiram publicamente a existência do chamado "mensalão", mesada que seria paga pelo PT para que aliados votassem a favor de projetos do Planalto. Integrantes da CPI também querem checar se é verdadeira a informação de que o empresário teria dito, a alguns interlocutores próximos, que tem em seu poder cem pastas onde estão guardados os registros de operações feitas com políticos e seus respectivos partidos.