Título: Contradições irritam deputados
Autor: Roldão Arruda
Fonte: O Estado de São Paulo, 18/07/2005, Nacional, p. A5

O comportamento contraditório do empresário Marcos Valério, que desdisse em sua entrevista ao Jornal Nacional o que havia dito na CPI dos Correios, irritou parlamentares que fazem parte da comissão. "Com afirmações falsas, ele prejudicou as investigações", disse o deputado Gustavo Fruet (PSDB-PR), um dos parlamentares mais ativos na comissão. Ontem, o deputado paranaense ligou para o presidente da CPI, Delcídio Amaral (PT-MS), para comentar o episódio e fazer uma sugestão: "Disse a ele que devemos requerer ao Ministério Público Federal que designe um procurador para acompanhar acompanhar o trabalho da CPI. Ele teria a missão de desdobrar todas as questões criminais antes mesmo do fim dos trabalhos. Não podemos passar por lenientes."

O deputado Eduardo Paes (PSDB-RJ) observou que o ex-tesoureiro Delúbio Soares, que ainda não foi à CPI, tem adotado um comportamento semelhante: "Disse uma coisa na entrevista coletiva que deu em São Paulo, outra na Polícia Federal e uma outra na TV".

DESTINO DO DINHEIRO

Uma das contradições mais visíveis entre o que Marcos Valério disse na entrevista ao Jornal Nacional e as declarações na CPI refere-se ao destino do dinheiro sacado das contas bancárias das empresas dele, as agências de publicidade DNA e SMPB. Na CPI, disse que se destinava ao pagamento de fornecedores e prestadores de serviços. Na TV sustentou que era usado para pagar dívidas do PT.

Outra contradição surgiu ao falar da quantidade de empréstimos que teria avalizado para o PT. Na CPI disse que era só um. Na TV: "Foram vários."

Também se contradisse ao tratar do relacionamento com o ex-tesoureiro do PT. Diante dos parlamentares, só faltou jurar: "Nunca passei dinheiro para o senhor Delúbio Soares". Na TV: "O montante total dos empréstimos foi para o PT, na figura do tesoureiro e de pessoas que ele indicava."

As mudanças teriam resultado da mudança na tática da defesa. "Valério e Delúbio ensaiaram tudo, até os detalhes", assinalou o deputado baiano ACM Neto, do PFL. "O Valério procurou espontaneamente o procurador-geral da República, na quinta-feira, e na sexta deu a entrevista ao Jornal Nacional. O Delúbio foi ao procurador na sexta e no sábado deu entrevista ao mesmo jornal."