Título: Ex-tesoureiro vai desabar, prevê oposição
Autor: Roldão Arruda
Fonte: O Estado de São Paulo, 18/07/2005, Nacional, p. A5

O tesoureiro licenciado do PT, Marcos Delúbio Soares, pode desmoronar na quarta-feira, diante da CPI dos Correios. E pode arrastar com ele toda a estratégia de teor criminalista montada há pouco pela sua defesa, com o duplo objetivo de reduzir o peso das acusações contra ele e blindar o governo. Na opinião de parlamentares da oposição que viram sua entrevista no Jornal Nacional, no sábado, a possibilidade Delúbio ruir tem duas boas razões. A primeira está na história que ele defende agora, de que não existe corrupção no governo, mas sim um caso de caixa 2 nas campanhas do PT. "É uma história pouco crível e vai ruir sem precisar empurrar muito", diz o deputado Antonio Carlos Magalhães Neto (PFL-BA).

A segunda razão está no próprio ex-tesoureiro. "A insegurança dele é visível", observa Gustavo Fruet (PSDB-PR). "O pior para ele é que na CPI não vai ter o José Genoino ao seu lado e a esposa logo atrás, como aconteceu naquela entrevista que deu na sede do PT."

Ontem, após desdobrar e analisar as declarações feitas por Delúbio Soares ao Jornal Nacional, integrantes da CPI concluíram que ele e o empresário Marcos Valério estão sendo orientados por advogados criminalistas. O objetivo deles seria conseguir que os atos de seus clientes não sejam caracterizadas como crimes de corrupção e formação de quadrilha, mas sim violações da legislação eleitoral. As penas seriam mais leves, no caso de sucesso da operação, com a vantagem de estancar a hemorragia dos escândalos, restringindo-a ao ex-tesoureiro e ao empresário, que estão assumindo a responsabilidade pela operação.

"Do ponto de vista de criminalista é uma boa estratégia", diz Eduardo Paes (PSDB-RJ). "Capenga, no entanto, ao ignorar que o alvo da CPI não é criminal, mas político. Quem cuida da questão criminal é a Polícia Federal e o Ministério Público."

A história contada por Delúbio e Valério, segundo o deputado Fruet, é cheia de falhas. Uma das mais visíveis está na afirmação de que o ex-tesoureiro cuidou sozinho do empréstimo de R$ 39 milhões, com o aval do empresário mineiro. "Se fez isso, trata-se da pessoa mais importante do PT no País inteiro, um gênio, a quem ninguém ousava sequer pedir esclarecimentos."

AMIGOS E CHEFES

O deputado baiano ACM Neto lembra que Delúbio sempre foi muito próximo do ex-ministro José Dirceu e do ex-presidente do PT, José Genoino, além de ter sido um dos homens mais ligados ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva na campanha de 2002. "Não dá para acreditar que tenha manipulado sozinho tantos recursos", diz.

Outra ponta mal resolvida na história é o alegado desprendimento de Valério, que teria avalizado os títulos sem contrapartidas. "Com essa linha de defesa, vão arrumar uma encrenca sem fim", afirma Fruet. "Como ninguém acredita que o empresário seja tão bonzinho, o resultado vai ser a intensificação das investigações sobre o tráfico de influência no governo, os atos praticados pelos bancos Rural e BMG e os contratos de publicidade do governo. Na ponta disso tudo, o foco das atenções recai sobre o secretário Luiz Gushiken, responsável pela publicidade."

Para Fruet e outros parlamentares da oposição, em vez de estancar a hemorragia dos escândalos, a estratégia criminalista pode ampliá-la. "Com esses depoimentos, Delúbio e Valério só reforçam as suspeitas de corrupção, formação de quadrilha e lavagem de dinheiro", diz Eduardo Paes.