Título: Fazendas com donos falsos
Autor: José Maria Tomazela
Fonte: O Estado de São Paulo, 18/07/2005, Nacional, p. A8

A suposta compra das duas fazendas que teriam tornado o governador petista "um grande latifundiário" consta de um dossiê encaminhado ao Ministério Público. Uma cópia foi parar no escritório do advogado Paulo Tadeu Haendchen, de Campo Grande, que representa os denunciantes. "Como atuo em ações contra o governo, as denúncias acabam caindo aqui", diz ele. Zeca do PT seria o dono das fazendas Ave Maria, antes chamada Santa Margarida, e Cheia de Graça (antiga São Sebastião da Várzea), com 3.046 hectares, no município de Bela Vista. As propriedades estão em nome de Wagner de Deus da Silva e Dirceu Seraphim. Este último, na época da aquisição, era funcionário de um posto de gasolina, em Campo Grande, recebendo pouco mais de um salário mínimo por mês. Zeca também teria adquirido a Fazenda Baía das Conchas, em Porto Murtinho, com 5.689 hectares.

Haendchen lembrou o caso em que o apresentador de um conhecido programa de televisão queixou-se no ar de que o governador "atravessara" a compra de uma fazenda em Camapuã, pagando mais do que ele oferecera. O apresentador, depois, retirou o que dissera.

Assessores de Zeca dizem que ele é dono apenas de uma chácara em Campo Grande e de um pesqueiro em Porto Murtinho, onde já esteve o presidente Lula. "Não tenho a menor idéia de quem seja o dono das fazendas", afirmou o governador.

Haendchen prepara um pedido de investigação das relações da família do governador com a Associação das Famílias para a Unificação e Paz Mundial, mais conhecida no Brasil como a seita do reverendo Moon, investigada pela Justiça Federal por suspeita de lavagem de dinheiro e remessa ilegal de divisas.

Segundo a Polícia Federal, a associação teria adquirido 350 mil hectares no Pantanal sul-mato-grossense e no Paraguai. De acordo com Haendchen, o irmão do governador, Osório Miranda dos Santos, e seu primo, João Braga, foram corretores de Moon na maioria dos negócios. A seita foi beneficiada pela redução de multa ambiental que, em 2001, era de R$ 5 milhões. Após ação da Procuradoria do Estado , o valor foi reduzido para R$ 105 mil.