Título: Universidades aprendem a usar a tecnologia da informação
Autor: Renata Cafardo
Fonte: O Estado de São Paulo, 18/07/2005, Vida&, p. A14

Números de uma pesquisa inédita no País, realizada pela Escola do Futuro da Universidade de São Paulo (USP), mostram que as universidades e faculdades brasileiras se assemelham às americanas quando se fala em tecnologia da informação. Cerca de 50% das instituições de ensino superior do Brasil têm portais na internet, enquanto nos Estados Unidos o índice é de 37%. Assim como lá fora, é possível por aqui usar a rede para consultar o acervo das bibliotecas, fazer matrículas, acessar programas das aulas e tirar dúvidas com o professor, em boa parte delas. Apesar do avanço, apenas pouco mais da metade das instituições declararam acreditar que a tecnologia ajuda a melhorar o ensino e a aprendizagem, enquanto nos EUA 90,3% têm essa opinião. "Isso significa que os professores brasileiros usam a internet para se conectar, para fazer pesquisas, mas não acessam a rede na sala de aula. Por isso fica essa impressão de que não ajuda no ensino", diz o coordenador da pesquisa na USP, Fredric Litto.

O responsável pela área de informática na Fundação Armando Álvares Penteado (Faap), Paulo Klein, afirma que é preciso incentivar os professores a mudar a forma como dão aula. "A geração que está chegando à faculdade já é multimídia, não agüenta mais um professor falando por 50 minutos seguidos", diz. A instituição coloca à disposição dos professores notebooks, lousas inteligentes e outros recursos.

A pesquisa Campus Computing Report, realizada agora pela USP, é feita há 14 anos nos Estados Unidos. O responsável é o professor Keneth C. Green, da Universidade de Claremont, na Califórnia. No Brasil, os questionários traduzidos foram enviados no ano passado para as cerca de 1.900 instituições de ensino superior, que deveriam mandar suas respostas online. "Provavelmente, as que estão mais bem estruturadas responderam", diz a pesquisadora da USP Daisy Grisolia.

Os questionários foram preenchidos no Brasil por 158 instituições; nos EUA, o número de respostas foi de 892 - 57,8% do total. Mesmo assim, a amostra brasileira de 8% é representativa porque acompanha a proporção do universo, conforme perfil, tamanho e localidade das instituições. A enquete será feita novamente neste ano pela Escola do Futuro, o laboratório da USP que pesquisa e desenvolve projetos nas áreas de tecnologia da informação, inclusão digital, educação a distância, entre outras.

SEM FIO

Um dos poucos índices em que há grande discrepância entre os resultados brasileiros e americanos é o de redes sem fio. "Com relação às tecnologias que já existem há alguns anos, estamos próximos dos EUA, mas quanto às mais modernas estamos uns dois anos atrasados", afirma o coordenador de tecnologia da informação na USP, Paulo César Masiero. Apenas 1% do ensino superior brasileiro tem rede sem fio em todo o campus e 4% têm alguns locais cobertos pela tecnologia. Nos EUA, são mais de 80%.

"No começo da faculdade, tínhamos de ficar em fila para usar o computador, agora posso entrar na internet de qualquer lugar", conta o estudante Fábio Luiz Doreto Rodrigues, de 23 anos, que acaba de se formar na graduação e ingressar no mestrado da Escola Politécnica da USP. Rodrigues toma emprestado da faculdade uma placa wireless (sem fio) para notebook e faz suas pesquisas na internet de qualquer lugar. A Poli é uma das poucas unidades da USP com a tecnologia que na particular Faap, por exemplo, cobre todo o campus.

"O orçamento da USP não é suficiente para todos os gastos com informática. Professores das áreas de exatas e ciência são mais ativos para conseguir recursos externos", diz Masiero, explicando a melhor estrutura tecnológica da Poli e da Faculdade de Economia e Administração (FEA), por exemplo. A verba para informática é de cerca de R$ 5 milhões, dividida conforme o tamanho das unidades.

A instituição tem 100% de cabeamento para internet. Um sistema chamado Curso Online permite a todos os professores colocar seus programas de aulas na rede para acompanhamento dos alunos. Textos que serão usados ficam disponíveis para download, além da bibliografia e outros materiais. Instituições particulares, como a Faculdade Ibmec São Paulo e a Fundação Escola de Comércio Álvares Penteado (Fecap), também oferecem serviços semelhantes. "Assim, não é preciso, por exemplo, pedir o caderno emprestado do colega quando se falta à aula", diz o superintendente-geral da Fecap, Marcelo Freitas de Camargo.

Apesar de cursos online estarem presentes em 85% das instituições (nos EUA, são 72%), muito se faz para aumentar a tecnologia para alunos presenciais, que são a maioria. Os portais das instituições permitem que eles verifiquem os acervos e reservem livros nas bibliotecas, acessem todo tipo de publicação e tirem dúvidas com o professor por e-mail.

Segundo a pesquisa, os portais existem em maior número e até oferecem mais serviços que os americanos. Para o gerente de comunicações da Intel, Flávio Lobo, as universidades refletem a característica do brasileiro de usar a tecnologia como ferramenta de comunicação. "Por isso, o sucesso do Orkut e dos blogs", diz. Litto acrescenta que, nos EUA, o estudante, em geral, mora dentro da instituição e participa mais da vida acadêmica, o que acaba tornando menos necessários os serviços pela internet.

Os números positivos da pesquisa não surpreenderam também o consultor da IBM Sergio Lozinsky, apesar de o Brasil estar em 38º lugar em prontidão para a tecnologia no ranking mundial promovido pela empresa e pela revista The Economist. "As instituições de ensino são referência no País para tecnologia de informação. Fazem isso porque produzem conhecimento e formam profissionais."

A pesquisa não conseguiu determinar ao certo o número de computadores por aluno nas instituições, porque, segundo Daisy, as informações fornecidas não foram precisas. Neste ano, o grupo pretende orientar por telefone os profissionais que responderão ao questionário em cada faculdade.