Título: Uniforme de graça, mas com anúncio
Autor: Silvia Amorim e Bárbara Souza
Fonte: O Estado de São Paulo, 19/07/2005, Metrópole, p. C1

A gestão José Serra (PSDB) recebeu na última sexta-feita uma proposta tentadora para reduzir a zero os gastos com a compra dos uniformes escolares distribuidos aos alunos da rede municipal, mas que poderá gerar muita polêmica. A iniciativa privada se dispôs a doar um milhão de conjuntos - o suficiente para uniformizar todos os alunos - já em 2006, mas, em troca, quer estampar a marca dos patrocinadores nas peças. O projeto é da Associação Brasileira de Vestuário (Abravest), que fechou um acordo parecido na semana passada com a Secretaria Municipal de Subprefeituras para doar 18 mil uniformes a funcionários das 31 subprefeituras. Como contrapartida, as empresas parceiras - que escolhem em qual subprefeitura investir - poderão colocar a sua logomarca nas peças.

O caso virou polêmica. O secretário municipal de Educação, José Aristodemo Pinotti, disse ontem que não se sentia confortável para decidir sozinho e submeteu a questão ao prefeito José Serra (PSDB). "Ele pediu para estudarmos a proposta, os prós e contras e eventuais impedimentos legais", afirmou.

"Eu, pessoalmente, não gosto da idéia. Acho que criança não deve ser veículo de propaganda. Mas, por outro lado, são R$ 70 milhões que gastamos por ano com uniformes e que poderiam ser usados em outras coisas na educação", ponderou Pinotti. Ele não descarta a realização de um plebiscito para ouvir pais e alunos.

OUTDOOR AMBULANTE

O professor Claudio Fonseca, presidente do Sindicato dos Profissionais em Educação no Ensino Municipal de São Paulo (Sinpeem), questiona a possível economia que a Prefeitura terá com a medida. "Sou contrário. Não concordo que transformem os alunos em outdoors ambulantes." Para ele, a medida pode significar constrangimento.

Segundo ele, o dinheiro que a Prefeitura pretende economizar com os uniformes não vai se reverter em mais escolas ou aperfeiçoamento dos professores. "Quando a Marta (ex-prefeita Marta Suplicy) destinou 6% dos 31% (porcentual do orçamento) obrigatórios para a educação para outros itens, o dinheiro dos uniformes estava nessa fatia. É dinheiro carimbado (com destinação pré-determinada) e não pode ser usado para outra coisa."

Mudança nas regras teriam de passar pelo crivo da Câmara Municipal. "Também vamos analisar essa questão", disse o secretário, que já faz contas com o dinheiro hoje investido em uniformes. "Daria para construir 50 escolas ou 50 creches. É muita coisa."

pretende descentralização de compra nas escolas

contramão das medidas gestão Serra, que centralizou as compras

ontem deu primeiro passo com decreto que prevê que cada escola definirá o padrão do uniforme, cores, modelo e nome do aluno