Título: PT só declarou ao TSE repasse de R$ 169 mil para 4 diretórios
Autor: Fausto Macedo
Fonte: O Estado de São Paulo, 19/07/2005, Nacional, p. A5

A prestação de contas do PT ao Tribunal Superior Eleitoral (TSE) revela que o partido repassou apenas R$ 169.582,37 a quatro diretórios estaduais da legenda, entre 2003 e 2004. Os números reforçam a suspeita de que o PT operou caixa 2 durante o governo de Luiz Inácio Lula da Silva e põem contra a parede Delúbio Soares.

O ex-tesoureiro do PT disse que a agremiação teria arrecadado R$ 39 milhões por meio de empréstimos com o empresário Marcos Valério Fernandes de Souza para bancar despesas de campanhas. O dinheiro teria sido destinado ao pagamento do mensalão no Congresso.

A versão preparada por Delúbio coincide com a de Marcos Valério. Procuradores da República que investigam o esquema de mesadas para deputados suspeitam que Delúbio e Marcos Valério combinaram a defesa para tentar levar o caso exclusivamente para o âmbito eleitoral. Os procuradores têm informações de que os dois se reuniram diversas vezes nos últimos dias para acertar os detalhes da história que vão contar esta semana à CPI dos Correios e, depois, em juízo.

Essa estratégia, que visa a driblar eventual acusação de caráter criminal, já foi usada em outras ocasiões por outros políticos suspeitos de corrupção. Em 1993, Paulo Maluf, então prefeito de São Paulo, omitiu captação de US$ 19,5 milhões do esquema PauBrasil. Seus advogados tiraram o caso da Justiça criminal e o transferiram para a Justiça Eleitoral, onde as infrações atribuídas a ele já haviam caído na prescrição.

FUNDO PARTIDÁRIO

A relação de gastos que o PT declara ter realizado nos dois primeiros anos da administração Lula indica que o partido repassou verbas aos diretórios estaduais de Santa Catarina, Pará, Mato Grosso e São Paulo, que contabilizaram tais recursos no fundo partidário.

Para o diretório do PT de Santa Catarina foram feitos 11 aportes, somando R$ 95.414,24. O maior lançamento foi de R$ 9.569,70, segundo registro de 28 de fevereiro de 2003. O diretório regional do Pará recebeu R$ 37.337,58, enviados em 4 parcelas. O de Mato Grosso ficou com R$ 33.889,01. Para o diretório de São Paulo, R$ 3.041,54.

Antes da posse de Lula na Presidência, o PT - segundo sua contabilidade oficial apresentada ao TSE - fez 13 aportes no fundo partidário do diretório de Minas, 8 deles em 2002, ano da eleição, somando R$ 116.539,40. A título de gastos com obrigações fiscais o partido declarou ao TSE ter desembolsado R$ 109.290,17 entre 2003 e 2004. As saídas mais volumosas do caixa do partido foram por conta de pagamentos de empréstimos contraídos com o BMG (R$ 2,74 milhões) e Rural (R$ 3 milhões). Ambos avalizados por Valério e pelo então presidente nacional do PT, José Genoino.

Também foram declarados ao TSE pagamentos ao Banco do Brasil por conta de empréstimos realizados. À Procuradoria da República e na entrevista dada à TV Globo, Marcos Valério declarou que os empréstimos ao PT foram "vários e vultosos". Ele disse ainda que a justificativa do PT, desde os primeiros contatos, era de que o partido atravessava "muitas dificuldades financeiras".

CONFIANÇA

O empresário afirmou que fechou negócio com o PT e deu seu aval "porque havia um grau de confiança muito grande" entre ele e Delúbio. Segundo Marcos Valério, os saques foram feitos a pedido de Delúbio.

O ex-tesoureiro disse que os quase R$ 40 milhões - ou R$ 90 milhões atualizados - tomados com a intermediação de Marcos Valério foram empregados no financiamento de campanhas eleitorais do PT. Tal investimento não foi contabilizado.

Delúbio afirmou que é dele a responsabilidade por esse expediente e a prática "é comum nos outros partidos", porque os doadores, pessoas físicas e jurídicas, teriam receio de ter seus nomes envolvidos. O ex-tesoureiro afirmou ainda que o presidente Lula "não sabia" da contabilidade paralela.