Título: Outro assessor desmente irmão de Genoino
Autor: Luiz Maklouf
Fonte: O Estado de São Paulo, 19/07/2005, Nacional, p. A10

O ainda assessor do deputado estadual José Nobre Guimarães (PT) José Vicente Ferreira negou ontem que tenha envolvimento com os R$ 436 mil encontrados com o ex-assessor José Adalberto Vieira da Silva, preso pela Polícia Federal quando embarcava no Aeroporto de Congonhas, dia 8. A versão de que Ferreira tinha ligação com o caso foi contada na semana passada por Guimarães, irmão do ex-presidente do PT José Genoino. "Se o deputado está pensando em me usar, ele está redondamente enganado; eu não vou responder por um crime que não cometi", disse. Guimarães está desaparecido desde sexta-feira. Ninguém do PT cearense sabe informar onde ele está. Seus celulares foram bloqueados. Adalberto foi convocado para depor hoje à Comissão de Ética do PT. A direção estadual do partido está em silêncio. A reunião da executiva, marcada para ontem, não ocorreu por falta de quórum.

O deputado afirmou que o dinheiro encontrado com Adalberto pertencia, segundo Ferreira lhe disse, ao ex-assessor do Banco Nacional do Nordeste (BNB) Kennedy Moura Ramos. Serviria para viabilizar locadora em que Ferreira e a mulher de Adalberto, Raimunda Lúcia Pessoa de Lima, são sócios. "A história da locadora não tem nada a ver com esse dinheiro sujo, e o deputado sabia disso", afirma o assessor. Ramos também negou a versão do deputado.

Guimarães e Ramos, assim como Adalberto, são da tendência petista Democracia Radical e amigos de longa data. "A relação entre os três é de extrema confiança", confirma Ferreira.

Para ele, e para o PT do Ceará, que o tinha como secretário de Organização, Adalberto era um dirigente sério e de honestidade jamais questionada - até a prisão. "O Adalberto com quem eu convivi, por dois anos, não seria capaz de se envolver nisso sozinho", afirma Ferreira. "A não ser que tenha mudado muito e servido de mula ou laranja."

Ferreira foi o último petista a ver Adalberto em Fortaleza. Estiveram juntos dia 6. Foram para uma concessionária, onde Adalberto deixou seu Corsa. "Disse que ia vender para comprar um melhor, 1.8, preto", contou Ferreira. Com um salário de R$ 1.500, Adalberto estava endividado e não tinha dinheiro para o carro novo, na faixa de R$ 30 mil. Ferreira acha que o amigo iria financiar uma parte.

Adalberto seguiu com ele, de carona. Atendeu ao celular e, ao desligar, disse que era sua mulher, tesoureira do PT e membro do conselho tutelar em Aracati. Explicou que Raimunda precisava viajar para Recife no dia seguinte e pediu um cheque emprestado para comprar a passagem de avião. Ferreira emprestou em branco porque não sabia o valor. Avisou que não tinha fundos, mas Adalberto garantiu que Raimunda traria o dinheiro para o resgate.

A passagem foi comprada, mas para Adalberto e para São Paulo. Na quinta, dia 7, Ferreira e colegas do gabinete tentaram em vão falar com ele pelo celular. Na sexta à noite, segundo Ferreira, a secretária Lucetti ligou para avisá-lo da prisão.

SOCIEDADE

"Ficamos todos chocados", diz. Guimarães estava no PT de São Paulo - onde se declarou igualmente pasmo. De volta a Fortaleza, reuniu-se, na noite de segunda, com seus nove assessores. "Ele disse que estava tão perplexo quanto todos nós, não sabia de nada e não podia imaginar como o Adalberto tinha se envolvido com aquilo."

Nessa noite, Ferreira informou ao deputado sobre o negócio que fizera com Adalberto, "cinco meses antes" - a sociedade na locadora. Numa conversa. Ferreira deu a idéia, Adalberto gostou, disse que Ramos poderia emprestar o capital inicial e pediu para Ferreira formalizar a empresa em sociedade com Raimunda, "já que estava enrolado com o Serasa".

A empresa foi formalizada, mas em 2 de junho. Nunca chegou a existir de fato. Foi isso o que o deputado ouviu - e só isso, afirma o assessor. "Eu nunca disse que o dinheiro previsto para a locadora era o dinheiro sujo que foi encontrado com o Adalberto. Não sei porque ele inventou isto, mas não vou assumir uma culpa que não é minha."

No dia 15, Ferreira apresentou-se espontaneamente ao Ministério Público Federal para depor e registrar a disposição de abrir seu sigilo. "Estou vivendo um inferno, porque nada tenho a ver com esse mar de lama. O Guimarães e o Adalberto têm a obrigação de esclarecer tudo, o mais depressa possível."