Título: Justiça Federal pode prender Valério por destruir provas
Autor: Gilse Guedes
Fonte: O Estado de São Paulo, 19/07/2005, Nacional, p. A12

Suspeito de ter mandado destruir provas, o empresário Marcos Valério de Souza poderá ter a prisão preventiva decretada a partir de hoje pela Justiça Federal. O pedido está sendo analisado pela Polícia Federal, que enviou a Minas na sexta-feira o delegado Praxítenes Praxedes, que atua no inquérito dos Correios, a fim de verificar os documentos das empresas do empresário queimados na periferia de Belo Horizonte. Ele foi verificar, também, a responsabilidade pela destruição dos papéis, que incluem notas frias de contratos com órgãos públicos. A prisão preventiva tem duração de 30 dias, renovável pelo tempo que durar o risco de dano à instrução criminal e é solicitada em casos de destruição de provas, ameaça à ordem pública ou risco de fuga. A PF analisa se estende o pedido ao ex-tesoureiro do PT Delúbio Soares e a outros envolvidos no episódio.

Valério e Delúbio estão sendo monitorados por policiais, para evitar tentativa de fuga para o exterior. Para o delegado Luiz Flávio Zampronha, encarregado do inquérito, a responsabilidade de Valério já está caracterizada. Falta constatar se os papéis incinerados tinham relação com as investigações.

Valério disse, em depoimento à Procuradoria-Geral da República, na semana passada, que tomou empréstimos na rede bancária para formar o caixa 2 do PT. O empresário negou que o dinheiro tivesse origem em sobrepreço acrescentado nos contratos entre o governo e suas empresas de publicidade, DNA e SMPB.

A PF, porém, não está convencida de que o dinheiro não tenha saído dos cofres públicos e continua as investigações também sobre os documentos apreendidos no escritório de contabilidade, as movimentações bancárias levantadas pelo Conselho de Análise de Operações Financeiras (Coaf) e os contratos do empresário com órgãos públicos.

"Eles (Valério e Delúbio) vão tentar criar situações que dêem suporte à versão que produziram. Mas estamos atentos e não vamos engolir qualquer história", disse Zampronha.

Até agora, as investigações da PF já levantaram contra Valério indícios de lavagem de dinheiro, sonegação de impostos, formação de quadrilha e de crimes contra o patrimônio público e o sistema financeiro.

CÓPIAS

A PF recolheu ontem, na sede da Corregedoria de Polícia Civil de Minas, cópias dos documentos fiscais da DNA apreendidos na semana passada em Contagem. As cópias seriam encaminhadas para a CPI dos Correios. Delegados da PF solicitaram à Justiça Federal mais uma cópia da documentação para anexar ao inquérito aberto pelo órgão em Brasília, que visa a apurar denúncias de corrupção na administração federal.

Os originais das faturas apreendidas foram repassados ontem ao Ministério Público Estadual, que abriu inquérito civil para investigar os contratos das agências de publicidade de Valério com os órgãos públicos de Minas e a origem dos quase R$ 21 milhões sacados das contas das empresas.

"Vamos analisar todos os aspectos: se as notas são autênticas, se do ponto de vista fiscal e contábil estão dentro da lei", disse Geraldo Ferreira da Silva, que coordena a Promotoria de Defesa do Patrimônio Público.