Título: Lista do mensalão em poder da CPI inclui Severino e mais 21 do PP
Autor: Expedito FilhoLuciana Nunes Leal
Fonte: O Estado de São Paulo, 17/07/2005, Nacional, p. A4

Informante da CPI dos Correios entrega relação de deputados que receberiam dinheiro distribuído a mando do líder Janene

BRASÍLIA - A CPI dos Correios recebeu de um ex-funcionário graduado do PP uma lista de 22 deputados que se beneficiariam do pagamento de mesadas supostamente distribuídas a mando do líder do partido na Câmara, José Janene (PR). Da relação constam os nomes de dois cardeais da legenda que até agora não tinham passado pela mira da CPI: o presidente da Câmara, Severino Cavalcanti (PE), e o corregedor-geral da Casa, Ciro Nogueira (PI), responsável pela apuração das denúncias contra outros deputados. A identidade do ex-funcionário vem sendo mantida em segredo pelos integrantes da CPI, que o apelidaram de Garganta Profunda. Os detalhes apontados pelo informante são copiosos e explicam o organograma do esquema.

Nesse desenho, o dinheiro seria distribuído por João Cláudio Genu, chefe de gabinete de Janene, que já foi citado por sua relação com o publicitário Marcos Valério Fernandes de Souza - acusado de operar o mensalão -, e pelo deputado João Pizzolatti (PP-SC). Segundo as informações levadas à CPI, os pagamentos eram feitos no apartamento do próprio Janene e numa sala da Comissão de Minas e Energia, controlada pelo grupo.

"Isso é uma palhaçada da CPI, um delírio. Essa informação é fria e não vou me acovardar diante dela", reagiu Janene, com indignação, ao tomar conhecimento da acusação.

As mesmas denúncias, citando a distribuição de dinheiro no apartamento de Janene e em cafés da manhã na Comissão de Minas e Energia, haviam sido feitas pelo deputado Roberto Jefferson (PTB-RJ) em entrevista ao programa Roda Viva, da TV Cultura de São Paulo.

MALAS DE DINHEIRO

De acordo com as informações repassadas por Garganta Profunda, Pizzolatti chegava a circular pelos corredores da Câmara carregando malas de dinheiro, para o que contava com o apoio de funcionários da área de segurança. "O sr. Renato Câmara, ex-assessor do deputado Pizzolatti, era seu principal operador", disse o informante. O dinheiro que garantia o mensalão do PP teria como fonte operações de empresas estatais.

Além de considerar as informações de Garganta Profunda, a CPI pretende investigar as relações do ex-diretor de Furnas Dimas Fabiano Toledo com o empresário Airton Daré, que também seria ligado a Janene. "Dimas não é indicação nossa. Nunca indicamos ninguém em Furnas", defende-se o deputado. Serão apuradas ainda as conexões de Janene no Instituto de Resseguros do Brasil (IRB), já que a CPI tem informações de que a diretoria de Sinistros seria controlada por ele. Janene também teria estendido um tentáculo sobre a Petrobrás. O diretor de Abastecimento, Paulo Roberto Costa, apadrinhado pelo PP, teria um papel importante na irrigação financeira do esquema. A CPI vai esmiuçar as operações entre a Petrobrás e a American Distribuidora de Combustíveis - apontadas pelo informante como irregulares. "É outra mentira. Paulo Roberto é indicação do PT", assegura Janene.