Título: É uma nova versão da operação Uruguai
Autor: Expedito Filho, enise Madueno
Fonte: O Estado de São Paulo, 17/07/2005, Nacional, p. A6

Segundo parlamentares da oposição, a versão ensaiada de Valério e Delúbio é frágil e deverá ser facilmente desmentida pelos trabalhos da CP

BRASÍLIA - O deputado Antônio Carlos Magalhães Neto (PFL-BA) acusou o publicitário Marcos Valério de Souza e o ex-tesoureiro do PT, Delúbio Soares, de estarem montando uma farsa contábil nos moldes da Operação Uruguai, ocorrida há 13 anos, durante o processo de investigação de irregularidades no governo do ex-presidente Fernando Collor. Segundo o deputado baiano, Delúbio e Marcos Valério procuram justificar a origem e o destino do dinheiro. "Estão querendo apagar a possibilidade de que este dinheiro tenha sido arrecadado de empresários que mantinham negócios com empresas do governo", afirmou ACM Neto. "A versão montada é muito parecida com o que Collor fez durante a Operação Uruguai. A tese dos empréstimos é um tentativa de justificar a origem e o destino do dinheiro."

Os depoimentos prestados por Delúbio e Marcos Valério ao procurador geral da República, Antônio Fernando de Souza, apontam para a consolidação de uma estratégia de defesa onde os dois assumiriam irregularidades apenas na área eleitoral, com a sonegação de informações sobre recursos e doações de campanha. Como esse tipo de infração dificilmente resulta em punições severas, os dois tentariam, assim, se livrar de acusações mais pesadas, como corrupção e desvio de recursos públicos.

Nos dois depoimentos e nas declarações públicas prestadas nos últimos dias, ambos insistem em revelar apenas a existência de uma relação entre a tomada de empréstimos em instituições financeiras e o repasse dos recursos para o PT. Nada disso teria sido declarado.

Delúbio e Valério estariam imitando a estratégia já adotada pelo deputado Roberto Jefferson (PTB-RJ), que não reconhece sua participação em esquema de cobrança de cotas em estatais dirigidas por integrantes de seu partido, mas admite ter feito um acerto com o PT, para que o PTB recebesse ajuda financeira na campanha, sem declaração oficial à Justiça Eleitoral.

SITUAÇÃO PIORA

Para o deputado Gustavo Fruet (PSDB-PR), integrante da CPI dos Correios, a versão apresentada pelo empresário Marcos Valério piora a situação do PT. "A estratégia lembra a operação Uruguai", afirmou o parlamentar paranaense, reforçando a avaliação de ACM Neto. Na opinião dele, as declarações do empresário e do ex-tesoureiro do PT ao Ministério Público abrem novas frentes de investigação: a relação entre os recursos para o PT e os contratos de publicidade com o governo e a possibilidade de os empréstimos terem sido feitos para esquentar o dinheiro.

"Vamos ver se houve efetivamente o empréstimo ou se foi contribuição de alguns bancos - o que também é muito grave - e verificar o seu destino", disse Fruet. "Vamos saber se foi para campanhas ou se foi utilizado no mensalão."

De acordo com o deputado, é impossível acreditar que o empresário tenha feito os empréstimos apenas porque um amigo pediu, no caso o tesoureiro do PT, Delúbio Soares. "Se fez isso para ter uma contrapartida em contratos com o governo, piora a situação de Luiz Gushiken", observou, referindo-se ao chefe da Secretaria de Comunicação, responsável pelos contratos de publicidade do governo. "É difícil acreditar que os contratos não foram feitos para pagar o empréstimo."

GRANDE ERRO

O deputado Eduardo Paes (PSDB-RJ) considera que o PT cometerá mais um erro se tentar esconder o suposto esquema do mensalão, apresentando versões que possam sugerir crime eleitoral. "Se Marcos Valério pegou financiamento para o PT, alguém pagou e aí vamos chegar ao esquema de corrupção", afirmou.

Paes, que também faz parte da CPI dos Correios, disse que o PT pode até tentar essa estratégia, "mas seria mais um grande erro nessa altura do campeonato e não vão conseguir."

Para ACM Neto, a manobra não tem condições de prosperar. Ele disse que a CPI vai apurar a origem e o destino do dinheiro para demonstrar que houve lavagem de dinheiro sujo para pagar o mensalão. Na opinião dele foi isso que efetivamente aconteceu.

Na sexta-feira, o deputado localizou um empréstimo de R$ 15 milhões em nome do PT, feito pelo BMG, que teria o aval de Valério. "É muito estranho. A nossa desconfiança é que esse dinheiro não tenha sido usado para pagar dívidas, mas para pagar o mensalão." O deputado acha que a CPI tem condições de desmontar a farsa. Lembrou que dois gerentes do Banco Rural serão convocados e deve haver uma acareação entre Delúbio e Marcos Valério.