Título: Grupo de São Paulo exerce controle com mãos de ferro
Autor: Eduardo Nunomura
Fonte: O Estado de São Paulo, 17/07/2005, Nacional, p. A10

Centralização administrativa permite à igreja fazer investimentos de grande porte, como a compra de emissoras de rádio e T V

A viagem do dinheiro da Igreja Universal do Reino de Deus, em jatinhos próprios ou fretados, confirma o elevado grau de centralização que alguns estudiosos já vinham observando nos negócios da organização religiosa. Embora espalhada por 7.500 templos no território brasileiro e filiais em outros 80 países, ela é rigidamente controlada pelo bispo Edir Macedo e sua entourage, baseada em São Paulo - o destino do dinheiro apreendido pela Polícia Federal em Brasília. Esta centralização é que permite à Universal fazer investimentos de grande porte, na avaliação do sociólogo Ricardo Mariano, coordenador do programa de pós-graduação em ciências sociais da Pontifícia Universidade Católica (PUC) do Rio Grande do Sul e estudioso do avanço neopentecostal no País. Entre outros exemplos, ele cita a compra da TV Record, por US$ 45 milhões, em 1989; a montagem de uma cadeia nacional de emissoras de rádio; e a construção de catedrais monumentais. A Catedral Mundial da Fé, também chamada de Templo da Glória do Novo Israel, no bairro Del Castilho, Zona Norte do Rio, tem capacidade para 12 mil pessoas sentadas e, segundo os construtores, é revestida com pedras importadas de Israel.

"Nenhum pastor tem autonomia na aplicação dos recursos coletados", observa o sociólogo. "A Universal opera com o modelo eclesiástico episcopal, que é vertical e sem qualquer espaço democrático."

EFICIÊNCIA

A quantia de R$ 10,2 milhões apreendida em Brasília impressiona, mas é pequena diante dos valores manipulados pela administração central. Pelas declarações feitas ao Fisco há 5 anos, a movimentação anual chegava a R$ 2 bilhões. Estima-se que neste ano passe de R$ 3 bilhões.

"O sistema de arrecadação do dízimo e de doações funciona de maneira muito eficiente", afirma Mariano. "Há um esforço notável para convencer o fiel a fazer doações com amor, alegria e desprendimento."

O sistema sustenta-se na Teologia da Prosperidade, segundo a qual Deus pôs ao alcance do homem todas as bênçãos que tinha retirado na ocasião da expulsão do paraíso. Tais como a saúde, a felicidade e, sobretudo, o sucesso nos empreendimentos materiais.

Os homens podem ter acesso a essas bênçãos com ações que mostrem sua fé e contribuam para a evangelização. E é aí que entram as doações para a igreja e o pagamento do dízimo.

"Ensinam que quem não pagar os 10% do que ganha estará roubando de Deus", diz Mariano. "Quem pagar garantirá um pedaço do céu aqui na terra. Mas se não conseguir carro novo, um bom emprego, a reforma na casa, a culpa não é da igreja, mas do fiel, que duvidou de Deus e sucumbiu ao demônio."

O dinheiro é investido quase todo em obras da igreja, mas nem sempre fica claro até que ponto está relacionado à evangelização, à ampliação do poder político ou a negócios privados. Hoje a Universal possui dois grandes parques gráficos, no Rio e em Belo Horizonte, onde imprime livros, revistas e jornais. Sua principal publicação é o semanário Folha Universal, com tiragem estimada de 1,5 milhão de exemplares.

O bispo também é dono de um diário em Belo Horizonte, de uma gravadora, uma agência de notícias e uma financeira, entre outros negócios.