Título: Petista diz que fez saque no Rural e entregou a Delúbio
Autor: Diego Escosteguy
Fonte: O Estado de São Paulo, 20/07/2005, Nacional, p. A5

O vice-presidente do PT no Distrito Federal, Raimundo Ferreira, integrante do Conselho Fiscal nacional do partido, admitiu ontem ao Estado que buscou um envelope com dinheiro na agência do Banco Rural em Brasília, a pedido do ex-tesoureiro do PT Delúbio Soares. Ferreira esteve na agência no dia 29 de março do ano passado. A data coincide com um saque de R$ 200 mil na conta da agência SMPB, do publicitário Marcos Valério, no mesmo Banco Rural. Ferreira conta que entregou o pacote ao tesoureiro no dia seguinte.

O dirigente petista explicou em detalhes como - e por que - buscou o dinheiro para o ex-tesoureiro. "O Delúbio me ligou de São Paulo e me pediu para ir até a agência do Rural, onde eu deveria pegar um dinheiro que ele estava precisando para umas despesas. Ele me disse que precisava de alguém de confiança para buscar o pacote. Como sou amigo dele, nada mais natural." Apesar de trabalhar na sede do PT nacional em Brasília, Ferreira estava até ontem lotado no gabinete do deputado Paulo Delgado (PT-MG). Com o surgimento do escândalo, resolveu pedir demissão.

O nome do Ferreira surgiu no depoimento de Marcos Valério ao procurador-geral da República, Antônio Fernando de Souza. Na quinta-feira da semana passada, Valério listou ao procurador os nomes de 12 pessoas autorizadas a fazer saques nas contas das empresas dele.

Segundo a versão apresentada pelo publicitário ao Ministério Público, o dinheiro viria de um empréstimo contraído por Valério para o PT.

Ferreira afirmou que foi sozinho ao banco, forneceu a identidade aos funcionários e pegou um envelope branco, de tamanho médio, com timbre do Rural. Ele garante que não sabe se havia realmente R$ 200 mil no pacote. Também ignora o uso do dinheiro. "Nem perguntei."

"No dia seguinte, Delúbio chegou a Brasília e entreguei o envelope em mãos." O dirigente jurou que foi a única vez em que buscou dinheiro para Delúbio e que foi na agência do Rural. Mas revelou que via "freqüentemente" Valério na sede do PT em Brasília, no Edifício Varig. "Mas nunca conversamos." Segundo o petista, as idas de Valério à sede do PT tinham sempre o mesmo motivo: "Conversas reservadas" com Delúbio Soares.

Ferreira isentou o deputado Paulo Delgado de qualquer relação com o saque. "Ele não sabia de nada. Nunca contei para ele." Ainda ontem, Delgado procurou se desvincular do ex-assessor. "Ele estava lotado no meu gabinete, mas nunca trabalhou para mim", afirmou.