Título: 'Nunca fiz tráfico de influência', diz ex-secretário
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Fonte: O Estado de São Paulo, 20/07/2005, Nacional, p. A9

No depoimento à CPI dos Correios, o ex-secretário-geral do PT Silvio Pereira revelou ontem que, antes da posse do presidente Lula, comandou a construção de um banco de dados com mais de cinco mil nomes de petistas e de aliados para ocupar cargos na administração pública. O hoje secretário de Comunicação de Governo, Luiz Gushiken, foi o coordenador desse sistema de gerenciamento e indicação para cargos, concluído no final de 2002. Segundo Silvio Pereira, atualmente existem 1.400 cargos na administração pública federal que são ocupados por filiados ao PT, que contribuem todo o mês para a legenda.

"Esse banco de dados é anterior à posse do presidente Lula e o levantamento deu origem a um relatório que foi enviado para a Casa Civil e todos os ministérios", disse Silvio Pereira. "Mas nunca distribui cargos no governo", afirmou.

Durante todo o depoimento, ele tentou convencer os integrantes da CPI que tinha pouca importância dentro do partido e fez questão de dizer que não via o presidente Lula "há anos". Ele negou também que tivesse conhecimento dos empréstimos feitos pelo empresário Marcos Valério e de caixa dois para as campanhas de candidatos do partido. Garantiu ainda que não tinha influência junto ao governo em nomeações para a máquina pública federal. Mas admitiu que entregou indicações de nomes feitas pelo PT e por aliados para ocupar cargos em postos federais par a Casa Civil, então comandada por José Dirceu.

"Nunca fiz tráfico de influência nem outro tipo de tráfico. Apenas coordenei as indicações do PT para o governo. Não operava em nome do governo", afirmou. "Quem nomeou foi o governo. Nunca nomeei ninguém no governo federal", completou Silvio Pereira. Segundo ele, em março ou abril deste ano, o ex-tesoureiro Delúbio Soares apresentou relatório com dívida de R$ 20 milhões.

"Muitos podem achar estranho que os gastos do PT não tenham sido objeto de uma discussão mais coletiva. Mas foi assim que aconteceu. Eu reclamava porque achava que superestimávamos os gastos e as despesas", afirmou Silvio Pereira, ao argumentar que não tinha conhecimento nem da arrecadação nem da destinação de recursos do PT. "Nunca participei da discussão sobre empréstimo", disse o ex-secretário.