Título: Juro bancário sobe a 77,2% ao ano
Autor: Vânia Cristino
Fonte: O Estado de São Paulo, 26/05/2005, Economia & Negócios, p. B3

Média nos empréstimos para pessoa física só não chegou a 100% por causa do crédito consignado, que tem taxas mais baixas

As taxas de juros no crédito à pessoa física subiram de 75% em abril para 77,2% em maio, segundo dados divulgados ontem pelo Banco Central (BC). Uma das razões para a alta, segundo o chefe do Departamento Econômico do BC, Altamir Lopes, foi o Dia das Mães. Para comprar os presentes, mais pessoas tomaram empréstimos em linhas de crédito mais caras. A taxa média para pessoas físicas, porém, estaria perto de 100% ao ano se não fossem os empréstimos com desconto em folha, que são mais baratos. De acordo com os dados do BC, as pessoas físicas estão se endividando mais. Em maio, o total de empréstimos chegou a R$ 134,4 bilhões, mais 3,5% sobre abril. Em 12 meses, a elevação do volume de empréstimos chega a 36,8%. Ainda assim, a inadimplência caiu, de 12,8% em abril para 12,5% em maio.

No global, considerando pessoas físicas e jurídicas, o total de créditos na economia brasileira chegou a R$ 302,4 bilhões, 1% de alta sobre o mês de abril. Em 12 meses, o aumento dos créditos bancários chega a 21,8%.

As taxas de juros para pessoas físicas poderiam estar ainda mais altas do que os 77,2% de maio, se não fosse o efeito do crédito consignado. Segundo Altamir Lopes, essas linhas de crédito vêm forçando os juros para níveis mais baixos. São linhas mais baratas porque o risco de calote é baixo. As taxas de juros estão em 35,6% ao ano. Por isso, elas contribuem para baixar a média do custo do crédito à pessoa física. Lopes fez as contas e chegou à conclusão de que, se o crédito consignado não existisse, o juro para as pessoas físicas estaria batendo em 96,8% ao ano em maio.

JURÍDICAS

A liquidação do Banco Santos fez com que o BC registrasse queda no volume de empréstimos dos bancos às pessoas jurídicas. Sozinha, esta instituição financeira tinha cerca de R$ 2 bilhões emprestados às empresas. Com a liquidação extrajudicial, essas operações deixam de ser computadas pelo BC. No empréstimo para capital de giro, por exemplo, o Banco Santos tinha R$ 541 milhões aplicados. A exclusão desse montante fez com que, em maio, o volume de empréstimo para capital de giro baixasse de R$ 43,907 bilhões para R$ 43,486 bilhões.

É também a retirada das operações do Banco Santos das estatísticas que explica a queda de 4,1% para 3,4% na inadimplência das pessoas jurídicas, 0,7 ponto porcentual a menos. A taxa de juros cobrada pelos bancos às empresas bateu em 33,7% ao mês em maio e é a mais alta desde setembro de 2003.

Em maio, a procura por crédito elevou o volume de financiamento em praticamente todas as modalidades. Os consumidores abusaram inclusive do cheque especial, que tem taxas proibitivas, em torno de 147,6% ao ano. O uso do cheque especial cresceu 9% no mês, com os clientes passando a utilizar R$ 17,577 bilhões, ante R$ 16,119 bilhões no mês de abril.

As operações de crédito seguiram em alta em junho, segundo dados preliminares divulgados por Lopes. Ele informou que até 14 de junho o saldo de empréstimos cresceu 1,9%, atingindo R$ 305,9 bilhões. O crédito para pessoa física subiu 4,3% em junho, enquanto para pessoa jurídica continua estável.