Título: GDK negociou compra de jipe em nome de Silvio
Autor: Luciana Nunes Leal e Eugênia Lopes
Fonte: O Estado de São Paulo, 20/07/2005, Nacional, p. A9

O ex-secretário-geral do PT Silvio Pereira recusou-se a comentar, ao fim de 11 horas de depoimento à CPI dos Correios, se o jipe Land Rover que possui foi um presente da GDK, prestadora de serviços da Petrobrás. Amparado por habeas-corpus dado na véspera pelo Supremo Tribunal Federal (STF), que impedia qure fosse preso, Silvio manteve a determinação de não falar sobre seu patrimônio mesmo depois que o deputado Antônio Carlos Magalhães Neto (PFL-BA) citou reportagem do Jornal Nacional, que localizou o comprador do carro, identificado como José Paulo, diretor da GDK, por R$ 73,5 mil. "Minhas informações sobre patrimônio estão no meu Imposto de Renda", disse o ex-secretário, ao ser questionado pelo relator da CPI, Osmar Serraglio (PMDB-PR), se "ganhou ou não ganhou o carro de presente". Serraglio avisou que, se ficar comprovado que o jipe foi um presente da empresa, Silvio responderá por crime de falsidade ideológica, por não ter informado à Receita que o veículo foi doação da empresa. À Polícia Federal, ele disse que o jipe foi comprado com financiamento.

"O carro foi um mimo que Silvio recebeu da GDK", disse ACM Neto. Segundo ele, o Land Rover placa DKB 8091, de São Paulo, com valor de mercado de R$ 77 mil, foi vendido pela Paito Motors, de Araras (SP) para José Paulo, funcionário da GDK. Antes, o carro pertenceu ao médico Fernando Marin Torres, que o vendeu à concessionária BCVL, que o repassou à Paito antes mesmo de transferir a propriedade do veículo. A TV Globo encontrou o vendedor Hamilton Costa de Souza, que forneceu o contato com o comprador do Land Rover Defender 2003 de Silvio. O número do telefone era da GDK na Bahia.

Durante todo o depoimento, Silvio recusou-se a dar informações sobre seus bens. "Não falarei sobre meu patrimônio por orientação dos advogados", disse. Ele só revelou que recebe do PT, como autônomo, salário de R$ 9 mil. "Gostaria de ser registrado, mas ainda não fui. Emito recibo e é desta forma que recolho imposto." Mas ele não contestou quando o senador César Borges (PFL-BA), citando contabilidade do partido, disse que em 2003 recebeu R$ 19 mil em agosto e R$ 17 mil em outubro. Borges disse que os dados eram públicos. "Se é público, é público", respondeu o petista.

IMPACIÊNCIA

Indagado várias vezes sobre a aparente incompatibilidade entre os bens que declara à Receita, de R$ 650 mil, e o salário no PT, Silvio repetiu que não daria informações sobre patrimônio pessoal. Mais tarde, porém, prometeu à CPI enviar os dados sobre seu patrimônio.

Embora mostrasse segurança, ele perdeu a paciência algumas vezes, como quando o deputado Arnaldo Faria de Sá (PTB-SP) indagou se sabia dos empréstimos de Valério para o PT. Silvio disse várias vezes que sabia que o PT buscaria empréstimos em bancos, mas não tinha detalhes. "Tinha relacionamento político-eleitoral com Valério, não sabia de empréstimos."

À pergunta de Faria de Sá de "quem mandava" nele, irritou-se. "Respondia à direção do PT e ao presidente Genoino. Sou citado como braço direito. Mas sou Silvio José Pereira, militante do PT, e tenho RG próprio."

"O senhor faz parte do esquema?", perguntou Faria de Sá. "Que esquema? Não conheço esquema", rebateu. "Então o que está fazendo aqui?", provocou o petebista. "A CPI me convocou." Em seguida, foi indagado se influenciara na escolha da Skymaster para prestar serviço aos Correios. "Não, não e não!", respondeu.