Título: Bancos emprestaram ao PT R$ 121 milhões no governo Lula
Autor: Fausto Macedo
Fonte: O Estado de São Paulo, 20/07/2005, Nacional, p. A12

BRASÍLIA O caixa do Partido dos Trabalhadores engordou R$ 121,03 milhões nos dois primeiros anos do governo Lula, revela documento do Banco Central que rastreou operações financeiras efetuadas pelo partido e por duas das empresas do publicitário Marcos Valério Fernandes de Souza, suposto condutor do mensalão. O relatório mostra que o PT tomou R$ 27,58 milhões, em valores atualizados até 31 de dezembro de 2004, do BMG, Banco do Brasil e Banco Rural. As três instituições liberaram para o partido R$ 27,41 milhões, entre 2003 e 2004. É atribuído a "credores diversos" o repasse de R$ 245,25 mil.

O BB é o maior financiador do partido do governo - de seu caixa saíram R$ 19,29 milhões no período. Parte desse dinheiro foi emprestada ao PT em operações de leasing, nas quais o banco aceitou como garantia os próprios equipamentos adquiridos (5 mil computadores) e o software do partido. Um contrato de leasing, no valor de R$ 7,42 milhões (na data do negócio), foi fechado em 26 de fevereiro de 2004. O outro, de R$ 8,37 milhões, foi fechado menos de dois meses depois, em 16 de abril. A verificação mostra, ainda, que as empresas de Marcos Valério tomaram empréstimos do BMG e do Rural que totalizaram R$ 93,41 milhões. Esse dinheiro foi repassado ao PT entre fevereiro de 2003 e abril de 2004, em 6 parcelas - cada uma delas correspondente a um empréstimo tomado por Valério. A primeira transferência foi de R$ 12 milhões e a maior delas de R$ 18,2 milhões, realizada apenas cinco meses depois da posse de Lula.

CONFISSÃO

A planilha com os dados relativos às transações diretamente realizadas pelo PT mostra que do BMG foram tomados R$ 2,74 milhões, incluindo correção e juros contados desde a data do empréstimo. A operação junto ao Rural, R$ 3 milhões emprestados em 2003, chegou a R$ 5,3 milhões corrigidos em dezembro de 2004.

A SMPB e a Grafitti Participações tomaram R$ 83,41 milhões do Rural e do BMG. O maior empréstimo, de R$ 18,29 milhões, chegou a R$ 37,03 milhões com a correção. O primeiro empréstimo, de R$ 12 milhões, foi quitado, segundo o rastreamento do Banco Central.

À Polícia Federal, o ex-tesoureiro do PT Delúbio Soares já apresentou uma versão para os empréstimos em profusão. Ele confessou que "os partidos políticos têm dificuldades em financiar suas atividades exclusivamente com os recursos formais, doações, fundo partidário e contribuições de filiados". Segundo Delúbio, o PT, "a despeito de ter obtido êxito na eleição presidencial, teve muita dificuldade nas campanhas municipais de 2004".

O ex-tesoureiro disse também que "o PT custeou todas as despesas referentes à transição do governo federal e à própria posse, já que o cerimonial não dispunha de todas as condições necessárias". Segundo Delúbio, entre 2002 e 2003 foi "muito pressionado pelos diretórios estaduais com relação aos débitos da campanha de 2002". As dívidas dessas campanhas, anotou, provocaram débito de R$ 20 milhões para o PT, por isso "a necessidade dos empréstimos" - a maior parte das operações, no entanto, foi omitida do Tribunal Superior Eleitoral.

INUSITADO

"Esse relacionamento é inusitado, no mínimo", avalia o senador Álvaro Dias (PSDB-PR), que integra a CPI dos Correios. Ontem, Dias requereu a convocação do ex-diretor de marketing do BB Henrique Pizzolato, que teria recebido R$ 326 mil em dinheiro vivo sacado de uma conta da DNA Propaganda no Banco Rural. "O sr. Pizzolato tem estreitas ligações com o governo federal, ele foi arrecadador da campanha do presidente Lula em 2002", destaca o senador. Pizzolato foi nomeado diretor do BB em seguida à posse de Lula e é apontado como afilhado político do secretário de Comunicação e Gestão Estratégica do Governo, Luiz Gushiken.

Em uma das operações com o BMG, Marcos Valério usou a SMPB para fechar o negócio e, como garantia, apresentou contrato da DNA com a Eletronorte. Ontem, a estatal divulgou nota alegando que a transação teria sido feita "sem conhecimento e concordância da Eletronorte". Esse tipo de operação foi realizado com base em contrato com outras estatais, como os Correios.

O BMG rebateu informações da CPI sobre as taxas que a instituição teria cobrado de Valério - entre 1% e 1,2% ao mês, segundo os parlamentares que investigam o mensalão. Segundo o banco, as taxas efetivas dos empréstimos se situaram entre 2,23 % e 2,98%. "O BMG nunca, em tempo algum, praticaria taxas irreais e destituídas de qualquer fundamento de mercado", diz o banco, por meio de nota oficial.