Título: Partido avisa que dará calote em dívidas informais com Valério
Autor: Ana Paula Scinocca e Mariana Caetano
Fonte: O Estado de São Paulo, 20/07/2005, Nacional, p. A13

A Executiva do PT admitiu ontem ter dívidas de R$ 39 milhões, o dobro do valor que registrou no Tribunal Superior Eleitoral (TSE), e descartou a hipótese de pagar valores obtidos por acordos entre o ex-tesoureiro Delúbio Soares e o publicitário Marcos Valério de Souza. "Não podemos analisar nenhuma dívida que não tem registro formal", resumiu o presidente do PT, Tarso Genro, atribuindo a responsabilidade do débito apenas ao ex-tesoureiro. "Não podemos assumir qualquer dívida apenas por ouvir dizer." O presidente deixou claro que o tamanho do buraco deve ser ainda maior e anunciou um pacote de medidas de contenção de gastos.

"Esses valores ainda podem sofrer acréscimos", afirmou Tarso. "O tesoureiro José Pimentel continua colhendo informações." Alguns dos dados do balanço apresentado ontem estão sem atualização. Estão fora dos R$ 39 milhões cerca de R$ 20 milhões do contrato de leasing para informatização do PT firmado com o Banco do Brasil. Também não foram computadas dívidas de diretórios estaduais e municipais. Estima-se, extra-oficialmente, que isso equivaleria a mais R$ 40 milhões. Dessa forma, o rombo nas contas petistas pode chegar a R$ 100 milhões.

Houve críticas à direção petista substituída há duas semanas. "Na opinião pacífica da Executiva Nacional foi uma gestão temerária", afirmou Tarso Genro. "O partido foi assumindo uma série de compromissos sem previsibilidade, sem planejamento. Se fôssemos uma empresa, estaríamos em situação de insolvência. Será muito difícil e trabalhoso sair dessa situação."

Nos próximos 18 meses o PT terá de reduzir R$ 1,2 milhão por mês de despesas. O relatório sobre o quadro financeiro apresentado por Pimentel deixou perplexa a Executiva e deputados presentes. Causou revolta a informação de que o ex-secretário-geral Silvio Pereira e Delúbio recebiam salários superiores aos de outros membros da cúpula, até mesmo o ex-presidente José Genoino. Enquanto a média era de R$ 7 mil, Delúbio e Pereira embolsavam cerca de R$ 12 mil. À CPI dos Correios, Pereira declarou receber R$ 9 mil do partido. Acumulando outras fontes pagadoras em conselhos de empresas públicas ou fundos de pensão o ex-secretário de Comunicação Marcelo Sereno recebia R$ 17 mil, destacou o deputado Ivan Valente (SP). Agora, a reestruturação das finanças incluirá a fixação de um teto de R$ 7 mil para o salário de dirigentes; o fechamento da sede em Brasília e a venda de automóveis, entre outras iniciativas. Demissões devem ocorrer.

Segundo Pimentel, o partido normalizou ontem o pagamento de seus credores, suspensos desde que a nova direção assumiu a legenda, no dia 10. O PT tem até dívidas com o INSS - as obrigações trabalhistas, segundo o tesoureiro, serão as primeiras a serem quitadas. No ano passado, o PT arrecadou R$ 48 milhões, mas fechou suas contas com 40% de déficit. Ele anunciou a preparação de um regimento interno para a administração das finanças petistas, que deverá separar as contas de campanha das partidárias, e será aplicado em todos os diretórios.

A Executiva também aprovou resolução insistindo na defesa da reforma política.