Título: Aluno estadual tem leitura regular
Autor: Renata Cafardo
Fonte: O Estado de São Paulo, 25/06/2005, Vida&, p. A21

Cerca de 35% apresentaram nível médio em avaliação do governo, o que significa que muitos não conseguem interpretar textos

O maior contingente dos alunos das escolas estaduais de São Paulo tem nível regular de leitura. Isso quer dizer que muitos deles, dependendo da série, não são capazes de interpretar um texto se os conteúdos não forem explícitos, identificar a seqüência dos fatos em uma reportagem ou perceber a ironia na literatura. Esse é o resultado do Sistema de Avaliação de Rendimento Escolar do Estado de São Paulo (Saresp), realizado por 4 milhões de estudantes no fim de 2004. O Estado teve acesso aos dados com exclusividade. O nível regular, no entanto, no qual estão mais de 35% dos alunos em quase todas as séries, significa que eles acertaram mais de 50% das questões da prova. "Não é ótimo, mas é um bom resultado pelo tamanho da rede", diz o secretário da Educação, Gabriel Chalita. O governo, segundo ele, precisa se preocupar com os cerca de 30% que estão nos níveis insuficiente e abaixo de insuficiente. Em todas as séries, outros 25% tiveram resultado considerado bom; de 5% a 6%, muito bom, e menos de 1%, ótimo.

Em 2004, pela segunda vez o exame foi realizado com todos os alunos da rede e não por amostragem. Os resultados de 2003 foram questionados por professores e entidades porque davam um retrato surpreendentemente positivo do ensino público. Isso aconteceu porque o governo informou apenas que a maioria dos alunos havia acertado mais de 50% da questões. Agora, a secretaria divulgou os resultados detalhados, posicionando as faixas de desempenho em que ficaram os alunos.

A educadora da Universidade de São Paulo (USP), Silvia Colello, considera uma "surpresa positiva" os índices na 2ª série. Apenas nela, a maior parte dos alunos não está no nível regular e sim no muito bom. Ela notou também que a maioria das crianças que não freqüentou pré-escola se saiu pior no Saresp e isso reforça a importância da educação infantil.

"Mas, a partir da 5ª série há um resíduo de alunos que não conseguem aprender", diz, referindo-se aos que estão nos níveis insuficiente e abaixo disso. "Como, ao fim de 11 anos de estudo, o aluno ainda não atingiu o objetivo mais essencial que é a língua escrita?" O Saresp avalia apenas a leitura, mas sem ela é impossível o estudante se sair bem em outras disciplinas, como história, geografia e ciências. A partir deste ano, a prova vai incluir matemática.

Segundo o governo, os resultados considerados positivos do Saresp são o efeito de uma política de capacitação de professores e de programas que incentivam a leitura.

"Em educação, as coisas demoram para surtir efeito. O que vemos nas escolas é uma realidade abaixo do regular, diferente da do Saresp", diz o presidente do sindicato dos professores (Apeoesp), Carlos Ramiro. Thais Cavalcante, de 10 anos, diz que a prova foi difícil. Durante o teste, ela perguntou várias vezes para a professora como respondia as questões. "Eu queria fazer, mas não conseguia."

O desempenho em leitura é medido também pelo Sistema de Avaliação da Educação Básica (Saeb), do Ministério da Educação. Na última prova, em 2003, a maioria dos alunos paulistas ficou no nível intermediário, ou seja, ainda inferior ao adequado para a série.