Título: Vencedor é linha-dura nuclear
Autor:
Fonte: O Estado de São Paulo, 25/06/2005, Internacional, p. A16

Ahmadinejad acusa o atual governo de ceder demais a pressões

Se a contagem dos votos confirmar a vitória do candidato linha-dura iraniano, Mahmoud Ahmadinejad, dirigentes na Europa e Estados Unidos terão motivos extras para se preocupar com a possibilidade de o país dos aiatolás vir a ter armas atômicas. O ultraconservador Ahmadinejad soube explorar politicamente a resistência estrangeira ao projeto. Na segunda-feira, acusou os negociadores do país de serem muito fracos e cederem à pressão européia. E se mostrou propenso a adotar posição mais radical na questão enquanto seu rival, o conservador pragmático Akbar Hashemi Rafsanjani, deixou claro que manteria a porta abertas a um acordo com o Ocidente. Ainda é incerto o quanto o novo presidente poderá influir no projeto nuclear, mas há não dúvida sobre a posição de Ahmadinejad. Altos funcionários iranianos, incluindo o chanceler Kamal Kharrazi, insistiram durante a campanha eleitoral que um novo presidente não interferirá na política externa. Ontem, quando a votação ainda estava em andamento, o Ministério de Relações Exteriores novamente insistiu que o país voltaria a enriquecer urânio, independentemente de quem vencesse. O porta-voz Hamid Reza Asefi frisou que o presidente tem "certa influência" no programa nuclear, mas a tomada de decisão passa pelos clérigos, que têm a palavra final.

Representantes da União Européia (UE) têm mantido nos últimos meses intensas negociações com diplomatas iranianos. O objetivo dos europeus é forçar o Irã a trocar o processo de enriquecimento de urânio por vantagens econômicas.

As conversações continuam estancadas. O Irã alega que quer dominar esse processo apenas para o uso pacífico da energia nuclear. Seus dirigentes dizem não ter recebido nenhuma oferta vantajosa que os faça desistir e ameaçam retomar o enriquecimento de urânio, suspenso em novembro, após forte pressão dos EUA e da ONU. Já os americanos acusam o Irã de manter um programa nuclear pacífico, para produção de energia elétrica, apenas como fachada. A verdadeira intenção, dizem os americanos, seria a fabricação de bombas atômicas. O domínio da energia atômica é questão de orgulho nacional no Irã, que tem nas vizinhanças várias potências nucleares (Rússia, Índia, Paquistão e Israel, cuja existência Teerã não reconhece). Essa questão é uma das únicas que unem reformistas e linhas-duras.

Numa entrevista a uma rádio sueca, o ex-chefe da equipe de inspetores da ONU, Hans Blix disse que a questão está sendo exagerada, já que o Irã está "a muitos anos de distância" de produzir o urânio necessário para uma bomba atômica.