Título: Lula pede cargo de Olívio para dar ao PP e desencadeia nova crise
Autor: Tânia Monteiro e Sérgio Gobetti
Fonte: O Estado de São Paulo, 20/07/2005, Nacional, p. A15

O aviso dado na manhã de ontem pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva ao ministro das Cidades, Olívio Dutra, de que precisava do seu cargo para oferecer ao PP na reforma ministerial abriu uma nova crise no Planalto. A operação para abrigar o secretário-executivo do Ministério do Desenvolvimento Indústria e Comércio, Márcio Fortes, no primeiro escalão revoltou funcionários do Ministério das Cidades e líderes dos movimentos sociais. Lula chegou a oferecer o comando da Empresa Brasileira de Infra-Estrutura Aeroportuária (Infraero) para Olívio, que rejeitou a oferta. Mais tarde, foi ofertado o Ministério do Desenvolvimento Agrário, ocupado por Miguel Rossetto. Olívio, definitivo, avisou que só fica no governo se for no Ministério das Cidades, onde considera ter "uma missão a cumprir". Caso contrário, avisou, prefere voltar para Porto Alegre. Enquanto isso, Fortes, que teve um encontro com Lula depois de Olívio, deixou o Planalto comunicando ao presidente da Câmara, Severino Cavalcanti (PP-PE), seu padrinho, que a sua posse como ministro seria amanhã. Os pepistas comemoraram e o gabinete de Fortes confirmou sua saída.

Mais tarde, não só discurso dos pepistas mudava, como o das assessorias no ministério, porque começaram a circular notícias de que poderia haver problemas na indicação. No Planalto, a informação era de que o nome de Fortes enfrentava resistência dos gaúchos e estava sendo reavaliado por causa de processos que poderiam existir contra ele. A decisão, ainda segundo informações do Planalto, só sairia amanhã, apesar de se considerar a saída de Olívio inevitável, para abrir espaço para os aliados. Lula teria, ainda, confessado preferência por outro nome, o do embaixador José Botafogo Gonçalves.

Ao regressar ao gabinete e comunicar que o presidente pedira seu cargo, Olívio provocou uma revolta entre os colegas, que ameaçavam entregar todos os cargos DAS - são cerca de 200. Um ingrediente a mais na crise é que, no dia anterior, Lula esteve com Olívio, num café da manhã, e confirmou que ele estava garantido no cargo.

Pouco antes das 13 horas, avisado da forte reação, antes de embarcar para São Paulo, Lula destacou a ministra da Casa Civil, Dilma Rousseff, petista e gaúcha, para ligar para Olívio. Pediu que ele se acalmasse, cancelasse a entrevista que daria mais tarde anunciando a sua saída e esperasse até amanhã.

A princípio, o recado foi entendido como um sinal positivo, mas, no final do dia, não havia mais tanta certeza do que poderia acontecer com Olívio, apesar das inúmeras manifestações de solidariedade que chegaram, inclusive do Banco Mundial.

A inconformidade com a atitude de Lula era tanta que o chefe de gabinete de Olívio, Dirceu Lopes, chegou a criticar a decisão em entrevista a uma emissora gaúcha: "O governo fez uma opção de classe. Trocou um ministro, com compromisso com a esquerda, por uma aventura que não dá nenhuma garantia de sustentação política."

A substituição de Olívio por Fortes chegou a figurar como "manchete" da página da Agência Brasil na internet (órgão oficial do governo): "Olívio Dutra será substituído por Márcio Fortes no Ministério das Cidades", dizia a chamada às 13h46, que permaneceu até por volta das 17 horas. A reportagem dizia que a mudança havia sido anunciada por Lula, de manhã. Às 23 horas ainda estava no índice da Agência Brasil.