Título: Sem recursos, Rodrigues ameaça deixar o governo Lula
Autor: Sonia Racy
Fonte: O Estado de São Paulo, 20/07/2005, Economia & Negócios, p. B2

Ontem, em audiência com o presidente Lula, o ministro Roberto Rodrigues teria pedido demissão, segundo uma importante fonte do setor agrícola. Nenhum problema relacionado à crise política e sim à falta de apoio da área econômica ao setor que enfrenta a mais grave crise dos últimos anos. Indagado ontem, Rodrigues confirma que esteve com Lula, mas nega que tenha pedido demissão. "São boatos. Espero e confio que ainda vamos conseguir convencer a área econômica sobre a urgência e a importância de se resolver a questão financeira da agricultura", esclarece, sem, contudo, revelar o que exatamente conversou com Lula. "Falei sobre a situação da agricultura e sobre a urgência de se resolver o problema", limitou-se a informar.

O fato é que Rodrigues vem alertando o governo, desde novembro do ano passado, para a crise que se avizinhava. E ela veio pior que o imaginado, com ingrediente extra de São Pedro: a forte seca no Rio Grande do Sul e outras mais fracas nas regiões Centro-Oeste, Sudeste e no Oeste da Bahia. Basicamente, segundo Rodrigues, são quatro os fatores que levaram a agricultura à atual penúria. Primeiro. Os custos da produção agrícola cresceram no mundo inteiro: o bom momento dos anos passados levou a um incremento de produção, pressionando a demanda por insumos cuja produção não cresceu na mesma proporção, mais o aumento do preço do petróleo e do aço. Segundo. Esse bom momento levou os agricultores a investirem e, portanto, a se endividarem, provocando descasamento de renda. Terceiro. A seca fez com que a produção de grão no Brasil, estimada em outubro de 2004 em 132 milhões de toneladas, caísse para 112 milhões. Quarto. O dólar médio estimado para a safra era de R$ 3,00; hoje está em R$ 2,40. "A agricultura deixou de ganhar R$ 10 bilhões", calcula o ministro. Além disso, o agricultor não tem mais condições de absorver o custo de uma logística sucateada. "Quando a soja estava a US$ 18,00 a saca, esse custo não era tão importante. A US$ 10,00 a saca, faz diferença grande."

Existe a promessa do governo Lula de liberar, ainda esta semana, R$ 3 bilhões do FAT para prorrogação das dívidas de custeio de julho e agosto para março e abril do ano que vem, envolvendo cinco setores agrícolas: algodão, soja, milho, trigo e arroz. E mais R$ 600 milhões para mecanismos de política agrícola. Para o Rio Grande do Sul, já foram liberados R$ 1 bilhão do FAT para custeio e R$ 400 milhões para mecanismos agrícolas, o que resolveu, em parte, a situação.

Rodrigues aguarda ainda recursos para defesa sanitária e seguro rural. "Temos que manter a competitividade." E bate na tecla da medida que libera importação de insumos do Mercosul em prazos mais rápidos. "Os ciclos agrícolas são mundiais e a maioria dos países introduziu o seguro rural para tempos de vacas magras. No Brasil, não existe esse mecanismo: essa é a prioridade zero para a agricultura."