Título: Lula se rende ao PMDB por um pacto de governabilidade
Autor: Christiane SamarcoCida Fontes
Fonte: O Estado de São Paulo, 25/06/2005, Nacional, p. A4

Em almoço com Temer e Renan, presidente pede que partido indique quais ministérios quer ocupar

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva se rendeu ao PMDB. Em almoço de quase duas horas e meia, no Palácio do Planalto, com os presidentes do partido, deputado Michel Temer (SP), e do Senado, Renan Calheiros (AL), Lula pediu ontem ao PMDB que indique, nos próximos dias, os ministérios que quer ocupar. Na tentativa de conter a crise política, o presidente propôs ao PMDB um "pacto de governabilidade". Mais: disse que o partido pode comandar ministérios fortes e de grande alcance político, como Minas e Energia, Integração, Saúde ou Cidades, com todos os cargos a eles subordinados nas estatais - um modelo conhecido como "porteira fechada". Assediado com dois anos e meio de atraso, o PMDB ficou de pensar na oferta. As alternativas foram postas na mesa por Lula diante do líder do governo no Senado, Aloizio Mercadante (PT-SP), que também participou do almoço. Mas a proposta oficial somente será feita se o PMDB aceitar o "apelo" para ingressar por inteiro no governo. Atualmente, o partido tem os ministérios da Previdência e das Comunicações, mas deve dobrar seu espaço.

Na conversa, Lula demonstrou muita preocupação com a possibilidade de a crise política contaminar a economia. Ao apelar para o "pacto de governabilidade", deixando a cargo do PMDB a escolha dos cargos no primeiro escalão, Lula não usou meias palavras. "Não podemos permitir que essa crise prejudique a estabilidade econômica, o crescimento e os investimentos", afirmou ele. O presidente fez um discurso sob medida para agradar ao PMDB. "Eleições de 2006 não estão em discussão, são um capítulo à parte", garantiu, certo de que, por enquanto, o PMDB não quer atrelar seu futuro ao seu projeto de reeleição. "O PT elegeu o presidente da República porque foi teimoso; não sou contra ninguém ter candidato."

Temer garantiu a Lula que o PMDB não fará da CPI dos Correios um palanque eleitoral. "O presidente nos disse que o PMDB é indispensável à tranqüilidade institucional do País e nós já adiantamos que, em qualquer hipótese, o compromisso de apoiar a governabilidade estará de pé", contou o deputado. "Foi uma conversa de boa-fé e a confiança nessa interlocução com o presidente é total", completou.

Embora Lula tenha pedido pressa na resposta, para não atrasar mais a reforma ministerial, só na segunda-feira Temer decidirá como será feita a consulta às várias instâncias partidárias. O presidente se antecipou e disse que chamará os sete governadores do PMDB para uma conversa sobre as mudanças na equipe. De qualquer forma, não será tarefa fácil levar o PMDB por inteiro para o governo. "Só com uma nova convenção", comentou o deputado Geddel Vieira Lima (BA).

Durante o almoço, Lula disse a Renan e a Michel que não pretende fazer nova reforma para atender aos projetos de ministros-candidatos. Os que desejam concorrer a mandato, em 2006, devem, portanto, afastar-se agora, e não apenas em abril.