Título: Sessão na Câmara exalta repressão no Araguaia
Autor: Denise Madueno
Fonte: O Estado de São Paulo, 26/05/2005, Nacional, p. A11

Na solenidade, pedida por Bolsonaro, coronel diz que se arrependeu de não ter agredido Genoino

A Câmara realizou ontem uma sessão solene, a pedido do deputado Jair Bolsonaro (PP-RJ), de tributo aos militares que desmontaram a guerrilha do Araguaia, que mais se assemelhou a um filme de horror. Depois de ter chamado o deputado José Dirceu (PT-SP) de terrorista no plenário e ter ofendido o presidente Luiz Inácio Lula da Silva e a ministra da Casa Civil, Dilma Rousseff, em outra sessão, Bolsonaro organizou ontem um evento de pura provocação aos integrantes de movimentos políticos que combateram a ditadura militar. A realização da sessão foi autorizada pela presidência da Câmara. Bolsonaro levou como principal convidado o coronel Lício Augusto Maciel, chefe do grupo de combate e comandante das operações. Saudado por Bolsonaro como "herói do Araguaia", o coronel Lício ocupou a tribuna por uma hora fazendo um relato frio sobre a morte dos guerrilheiros e demonstrando orgulho da operação. Ele chegou a chorar ao falar de outros militares que também estiveram a repressão da guerrilha.

Bolsonaro, que incluiu na sessão um toque de silêncio e uma canção militar, reclamou da falta de autoridades militares no evento e atacou o comandante do Exército, Francisco Albuquerque. "Lamento a ausência de qualquer representação de integrantes das Forças Armadas. Senhor comandante do Exército, que muito estimo, a homenagem aqui é para homens", discursou Bolsonaro, sendo aplaudido.

O coronel Lício Maciel foi o grande homenageado da sessão. Responsável pela prisão do guerrilheiro José Genoino em 12 de abril de 1972, o coronel acusou o atual presidente do PT de ter entregue seus companheiros. Em tom teatral, o coronel se referia diretamente a Genoino, como se ele estivesse assistindo à sessão, que é transmitida pela TV Câmara. "Genoino, olhe no meu olho, você está me vendo. Eu prendi você na mata e não toquei num fio de cabelo seu. Não lhe demos uma facãozada, não lhe demos uma bolacha, coisa que me arrependo hoje", disse o coronel, aplaudido pelo plenário, composto de militares e esposas de militares.

Sem assumir que matou os guerrilheiros, o coronel contou que atirou em Lúcia Maria de Souza, conhecida por guerrilheira Sônia, na mata. "Quando ela sacou a arma vi que não tinha jeito e atirei: acertei a perna e ela caiu." Ele disse que, depois disso, ela recuperou a arma e atirou nele e no coronel Curió. "O resto da minha equipe revidou, claro. Encerrada foi a carreira da bandida Sônia, nome da guerrilheira", disse.