Título: Produção de café tem de dobrar
Autor: Rolf Kuntz
Fonte: O Estado de São Paulo, 20/07/2005, Economia & Negócios, p. B9

O Brasil terá de produzir 60 milhões anuais de sacas de café, dentro de 10 anos, para continuar a abastecer 40% do mercado mundial. A produção média foi de 32 milhões de sacas nas últimas três safras. É preciso definir agora qual será a política para alcançar os 60 milhões, disse ontem o secretário de Produção e Agroenergia do Ministério da Agricultura, Linneu da Costa Lima. Essa política poderá exigir a renovação de parte substancial dos cafezais brasileiros, pois há a suspeita de que uns 40% do parque cafeeiro nacional tenham mais de 20 anos e estejam perdendo produtividade.

Não só o governo brasileiro se prepara para cuidar do longo prazo. Em setembro, o ministro da Agricultura, Roberto Rodrigues, deverá presidir em Salvador a Segunda Conferência Mundial do Café. O encontro servirá para a prospecção de novas políticas para o setor, depois de uma crise de quatro anos que desempregou meio milhão de pessoas na América Central e agravou a pobreza em países africanos que dependiam da economia cafeeira para mais de 50% de sua receita de exportação.

Embora as cotações tenham aumentado cerca de 40% nos últimos 12 meses, os países produtores apenas começam a sair da crise, disse ao Estado o diretor-executivo da Organização Internacional do Café (OIC), o colombiano Néstor Osorio. É preciso aproveitar o momento, acrescentou, para discutir na conferência internacional questões que vão muito além da rotina.

A OIC, disse, não deve ser mais um instrumento de intervenção e de regulação do mercado, até porque o custo da retenção do produto acaba caindo sobre poucos países, normalmente Brasil e Colômbia, os maiores produtores.

As novas políticas da OIC, segundo seu diretor-executivo, deverão ser voltadas para a promoção do consumo e para a melhora das condições da oferta. Será preciso estimular o consumo nos países produtores, nos mercados tradicionais, como os Estados Unidos e a Europa Ocidental, e também nos mercados novos, como a China e a Ásia Central. O trabalho de promoção deverá explorar as pesquisas que mostram os benefícios do café para a saúde. Esse tipo de divulgação já é feito em alguns países, disse Osorio.

A ação da OIC, do lado da oferta, deverá incluir políticas de qualidade e de apoio à diversificação da atividade. Os cafeicultores terão maior segurança, segundo Osorio, se puderem complementar sua renda com outros produtos, como feijão, milho e pimenta-do-reino. Em alguns casos será preciso apoiar a erradicação, especialmente em áreas onde se plantou café de forma indiscriminada na fase dos preços altos. No México há um projeto de reflorestamento de uma área de 500 hectares em Vera Cruz. A OIC poderá atuar analisando projetos e canalizando recursos do Banco Mundial e de outras instituições. A OIC reúne 74 países, 30 dos quais, importadores. Os EUA haviam deixado a organização em 1993 e acabam de retornar.

O que se deve buscar, segundo Linneu da Costa Lima, é uma coordenação com os consumidores, para que seja possível estimar as necessidades e planejar a oferta a longo prazo. Planejar a oferta implica, segundo Costa Lima e vários produtores brasileiros, manter os preços numa faixa que assegure a remuneração mas não estimule o plantio desordenado. Os produtores podem ganhar dinheiro com a cotação entre US$ 1 e US$ 1,20 por libra-peso. Se houver uma grande quebra e os preços explodirem, como já ocorreu, o plantio poderá de novo expandir-se e em poucos anos haverá uma nova crise. Preço muito alto também pode ser mau negócio, descobriram os produtores brasileiros.

A safra de 2006, segundo Costa Lima, poderá ser crucial para a evolução do mercado nos anos seguintes. O Brasil precisará colher 43 milhões de sacas para garantir a exportação de 27 milhões e o abastecimento interno. Com mais uns 2 milhões poderá reforçar os estoques, hoje reduzidos. Uma colheita menor poderá resultar perigosa para o equilíbrio do mercado.