Título: 'Salário na Varig atrasa por culpa da crise no BB'
Autor: Mariana Barbosa
Fonte: O Estado de São Paulo, 20/07/2005, Economia & Negócios, p. B15

O presidente da Varig, Omar Carneiro da Cunha, atribuiu à crise no Banco do Brasil, provocada pel o escândalo político que já derrubou dois vice-presidentes da instituição, as dificuldades da empresa em pagar salários dos trabalhadores em dia. Com a troca de comando no banco, estaria havendo uma morosidade na tomada de decisões e por isso não estariam liberando aproximadamente R$ 140 milhões em recebíveis. A explicação foi dada ontem pelo executivo a trabalhadores da empresa em duas reuniões, no Rio de Janeiro e em Porto Alegre, e confirmada pela empresa. Cunha disse ainda que está estudando meios jurídicos para resolver a questão. Procurado, o Banco do Brasil diz que não comenta a relação com clientes, mas diz que não tem conhecimento de que haveria R$ 140 milhões bloqueados na conta da empresa.

Diferentemente da disputa da Varig com a GE e com a BR Distribuidora, que entraram na Justiça (e perderam) para tentar bloquear recebíveis que dispunham como garantia até o dia 17 de junho, quando foi dada a entrada no pedido de recuperação judicial, no caso do BB, que também é credor, o que se discute é uma linha de crédito. Antes, o BB adiantava para a Varig o valor total da venda de bilhetes que são parcelados pelos clientes no cartão. Já os recebíveis que o BB retinha para o pagamento de parcelas da dívida da empresa para com o banco foram liberados com a recuperação judicial. Aos trabalhadores, Cunha classificou de "inaceitável" a postura do BB.

Tanto no Rio como em Porto Alegre, líderes sindicais classificaram o encontro com Cunha de "frustrante". "Ele veio pedir compreensão e mais sacrifício, mas o trabalhador não agüenta mais", diz a presidente do Sindicato Nacional dos Aeroviários, Selma Balbino. "Ele não apresentou nada de concreto e deixou os trabalhadores sem resposta em relação a demissões e negociação com investidores", completa o presidente da Federação Nacional dos Trabalhadores em Aviação Civil (Fentac), Celso Klafke.

De acordo com o relato dos trabalhadores, Cunha foi cauteloso ao falar do governo. Afirmou que o País é "extremamente burocrático", mas disse que estaria havendo bastante diálogo com o governo, e que este tem tido muita paciência com a companhia.

Na sexta-feira passada, a Varig comunicou que iria adiar do dia 20 para o dia 29 o pagamento dos salários de junho para quem ganha até R$ 2 mil líquidos. Na segunda, sob ameaça de paralisação, a empresa voltou atrás e disse que pagará até R$ 1.400 até o dia 22. Para quem ganha acima disso, o pagamento virá integral no dia 29. O parcelamento ou adiamento de salários virou uma prática corrente na empresa nos últimos quase três anos. Havia uma expectativa de que a recuperação judicial aliviaria o fluxo de caixa, o que não aconteceu.