Título: Copom mantém a Selic em 19,75%
Autor: Renée Pereira e Renata Veríssimo
Fonte: O Estado de São Paulo, 21/07/2005, Economia & Negócios, p. B1

O Comitê de Política Monetária (Copom) decidiu por unanimidade manter a taxa Selic em 19,75% ao ano, sem viés, pelo segundo mês consecutivo. Em breve comunicado, o Banco Central (BC) afirmou que a decisão teve por base a avaliação "das perspectivas para a trajetória da inflação". O ciclo de aperto monetário, para conter a alta dos índices de preços, começou em setembro do ano passado e terminou em maio, elevando em 3,75 pontos porcentuais a taxa básica de juros no País. As elevações colocaram o Brasil na liderança dos maiores juros reais (Selic descontada a inflação projetada para os próximos 12 meses) do mundo, de 14,1% ao ano.

A manutenção da Selic ontem era amplamente esperada pelo mercado financeiro, que já discute o fim da trajetória de alta para a queda dos juros nominais. Boa parte deles acredita que será possível promover um corte na Selic já na próxima reunião, em agosto. A justificativa está nas quedas consecutivas dos índices de inflação nos últimos dois meses, afirma o economista do MBA Fipe/USP, Marcelo Allain. "Já há condições para queda da Selic, dada a demanda fraca, deflação e câmbio baixo. Além disso, com a inflação em queda, os juros reais subiram muito", argumenta ele.

O ex-presidente do Banco Central Gustavo Loyola, sócio da Tendências Consultoria Integrada, afirma que a decisão do Copom ontem está de acordo com o comportamento do BC nos últimos meses. Ele lembra que, embora a inflação esteja em queda, os índices ainda estão acima da meta deste ano e do ano que vem. Mas o corte da Selic, diz ele, virá no mais tardar em setembro.

Segundo Loyola, os modelos da autoridade monetária estão calibrados para atingir a meta de 2006. "Para este ano, o BC busca a menor inflação possível. Só não pode revelar que desistiu da meta de 5,1%, o que seria muito difícil de alcançar."

Para os analistas, dificilmente a crise política afetará a decisão do BC de iniciar a trajetória de queda dos juros básicos da economia. Isso porque, por enquanto, a turbulência não impactou o dólar e a inflação, afirma a economista da Mellon Global Investments, Solange Srour Chachamovitz. Teoricamente, a crise somente atingiria o nível dos juros a partir do momento em que contaminasse os ativos econômicos.