Título: Varig devia R$ 4 bi quando pediu recuperação
Autor: Mariana Barbosa
Fonte: O Estado de São Paulo, 21/07/2005, Economia & Negócios, p. B13

Quando entrou em recuperação judicial, no dia 17 de junho, a Varig devia cerca de R$ 4 bilhões a mais de 20 mil credores, dos quais 19 mil são trabalhadores. Os números constam de uma relação atualizada de credores, com a descrição e o valor de seus respectivos créditos, entregue ao administrador judicial, João Cysneiros Vianna, na última sexta-feira. A relação não inclui a dívida com a Receita Federal e a Previdência Social, estimada em R$ 2,5 bilhões. A relação - um calhamaço de 400 páginas - será entregue em cartório até o fim desta semana e, posteriormente, publicado como edital no Diário de Justiça. Após a publicação, os credores têm 15 dias para se manifestar.

Como muitos credores possuem mais de uma pendência com a empresa, o número individual de créditos chega a 21.500. Vianna irá enviar pelo correio, a partir da semana que vem, uma circular para cada um dos credores com a descrição de suas dívidas. Segundo Vianna, a Varig tem até 10 de setembro - 60 dias após a publicação da sentença da recuperação judicial - para apresentar o plano aos credores. Já o prazo para a conclusão da negociação e aprovação do plano é de 180 dias a contar do deferimento do pedido de recuperação judicial, o que ocorreu no dia 22 de junho.

Nos próximos dias, o juiz Alexander Macedo, titular da 8ª Vara Empresarial do Rio de Janeiro, deverá apreciar uma série de petições relacionadas ao caso. Dentre elas, uma petição assinada por um grupo de seis sindicatos do setor aéreo solicitando a convocação da assembléia de credores para que esta eleja o comitê de credores.

Pela Lei de Recuperação de Empresas, o comitê de credores tem poderes para fiscalizar os trabalhos da companhia durante a fase de recuperação, diferentemente do administrador judicial. "A lei manda que eu fiscalize mas não dá meios de fiscalizar", disse Vianna.

BANCO DO BRASIL

O vice-presidente de negócios internacionais e atacado do Banco do Brasil, José Maria Rabelo, desmentiu o presidente da Varig, Omar Carneiro da Cunha, que em reunião com funcionários anteontem atribuiu o atraso no pagamento de salários à crise no banco, que nas últimas semanas perdeu dois vice-presidentes. Segundo relato de trabalhadores - confirmado anteontem pela empresa, porém negado ontem - Cunha teria dito que a empresa tem R$ 140 milhões em recebíveis com o banco, mas que não estava conseguindo a liberação dos créditos. "As declarações são absurdas, levianas e irresponsáveis", afirmou Rabelo. "O BB não está em meio a nenhuma crise." Ontem, Cunha enviou cartas ao Estado e à direção do BB afirmando que as declarações "não refletem a realidade."