Título: Policial fez retiradas de R$ 4,9 milhões em BH
Autor: Sérgio Gobetti
Fonte: O Estado de São Paulo, 21/07/2005, Nacional, p. A4

É detetive da Polícia Civil de Minas o homem apontado como um dos reis dos saques milionários no Banco Rural. David Rodrigues Alves, salário de R$ 1,7 mil que o Tesouro mineiro lhe paga como servidor da Secretaria da Segurança do Estado, resgatou R$ 4,9 milhões - equivalentes a 2.882 holerites de Alves, que levaria 222 anos de trabalho ininterrupto para amealhar a soma que retirou da agência bancária. À Polícia Federal e à Polícia de Minas, ainda na noite de terça, o detetive afirmou que nunca foi o destinatário da fortuna. Declarou ter sido contratado pelo empresário Cristiano Paz, sócio do publicitário Marcos Valério Fernandes de Souza, suposto condutor do mensalão.

"Eu ganhava entre R$ 50 e R$ 100 por operação", afirmou Alves. Operação, segundo o relato do policial, incluía a ida até a agência do Rural em Belo Horizonte, o saque e o transporte do numerário. Repetiu o gesto muitas vezes, entre março de 2003 e maio de 2004, segundo registros do banco. Questionado sobre o destino do dinheiro, respondeu. "Eu entregava na agência de publicidade." Ele se refere à SMPB. Cristiano Paz desmentiu o policial. Por meio de sua assessoria, o empresário afirmou que "não conhece" Alves.

O rastreamento da CPI dos Correios indica que a SMPB, de Valério, é a agência que se prestava a contrair empréstimos vultosos junto a instituições financeiras, o Rural entre elas, para repassar os recursos ao PT. Transações já apuradas revelam que a SMPB tomou R$ 53,7 milhões, no Rural e BMG, em favor do partido.

Quando o nome do detetive surgiu em meio à montanha de papéis do Rural que o Banco Central entregou à CPI dos Correios, logo lhe conferiram cargo de prestígio no governo de Minas, figura de apreço no meio político. Alves teria sido até secretário de Estado da administração Aécio Neves (PSDB). Era um grande engano.

Preocupado, o próprio Aécio determinou investigação imediata acerca das funções de Alves na máquina pública. Identificado, o detetive foi localizado para depor. "Nunca vi o governador pessoalmente", disse o sacador de quase R$ 5 milhões. Ele até se prontificou a depor perante a CPI.

Parlamentares que investigam o mensalão acreditam apenas numa parte da versão que o detetive apresentou - e lhe atribuem o papel de "mero laranjinha" do complexo esquema. Eles não aceitam, porém, a parte em que Alves diz que o dinheiro era entregue na SMPB. "É conversa fiada para boi dormir", avalia o deputado Carlos Sampaio (PSDB-SP). Para ele, o policial "sabe, mas ainda não falou" os nomes dos verdadeiros destinatários do dinheiro que sacou.

PRISÃO

O senador Romeu Tuma (PFL-SP) pediu ao secretário de Segurança de Minas, Augusto Anastásia, e ao procurador-geral de Justiça, José Bonifácio Borges de Andrade, dados sobre a incineração de documentos fiscais da SMPB. Tuma disse que vai propor a prisão de Valério "em virtude de sua disposição deliberada de ocultar provas".