Título: Dinheiro para quitar jipe de Silvio Pereira saiu de agência de Salvador
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Fonte: O Estado de São Paulo, 21/07/2005, Nacional, p. A5

O dinheiro que o ex-secretário-geral do PT Silvio Pereira usou para comprar um jipe Land Rover saiu de uma agência bancária de Salvador e seria um presente da empresa GDK, que venceu uma concorrência de mais de R$ 200 milhões para reformar a plataforma P-34, da Petrobrás, no Espírito Santo. A agência é uma das 11 onde a GDK tem contas, na capital baiana, e dali o dinheiro foi transferido, por documento eletrônico, para outra agência em Ribeirão Preto, em nome da revendedora de veículos Eurobike. A operação foi noticiada ontem pelo Jornal Nacional, da TV Globo. A transferência do dinheiro foi feita em 10 de novembro de 2004 e confirmada pelo dono da revendedora, José Paulo Boldrin. "Foram R$ 74 mil em dinheiro", disse ele. O veículo estava antes em exposição em uma outra loja de veículos, em Araras, também no interior paulista. Comprovada a operação, seria uma primeira prova concreta, dentro das investigações da CPI, de benefício direto de um alto funcionário do partido do governo, por intervir em favor de uma empresa privada.

A denúncia já era conhecida e foi cobrada anteontem, durante a sessão da CPI dos Correios, por vários deputados e senadores. "Está aqui comprovada, comprovada a negociação do carro do sr. Silvio Pereira", disse então o deputado ACM Neto (PFL-BA). "Foi um mimo que ele recebeu de fato da empresa GDK - que, como eu lembro, presta muitos serviços para o governo federal, especialmente na Petrobrás", disse.

Segundo o Jornal Nacional, os documentos do carro - um modelo Defender, ano 2003 - obtidos no Detran mostram que ele já saiu da loja em nome do ex-secretário-geral, com destino à casa dele em São Paulo. O Detran informa, ainda, que Silvio ainda não pagou o IPVA deste ano, de mais de R$ 3 mil.

'PARA UM AMIGO'

Os R$ 74 mil foram depositados, segundo o vendedor Hamilton Costa de Souza, por José Paulo dos Santos Reis, que "não se apresentou em nome da GDK", mas deu seguidos telefonemas que eram atendidos, do outro lado, por alguém que se identificava como funcionário daquela empresa.

"Ele disse que estava procurando um carro para um amigo dele. No final da transação, depois do pagamento efetuado, foi que ele apresentou o nome de Silvio José Pereira para ser transferido", afirmou também o vendedor. Santos Reis é, de fato, funcionário da GDK, mas a empresa informou, em Salvador, que ele está de licença porque se casou.

A divulgação do pagamento, feita anteontem à noite, foi recebida com surpresa e irritação na CPI. O relator Osmar Serraglio, por exemplo, pressionou o ex-secretário do PT para que confirmasse se ganhou o carro e se ele constava de sua declaração de bens. "No Imposto de Renda consta o veículo e todos os bens que eu possuo e será objeto da CPI", disse Pereira.

Serraglio replicou: "Ou seja, Vossa Senhoria se recusa a dizer se ganhou ou não ganhou. Se ficar comprovado que ganhou, não importa o que está declarado. V. S. vai responder por falsidade ideológica, por sonegação, por constar no Imposto de Renda que não ganhou."

O novo secretário-geral do PT, Ricardo Berzoini, sucessor de Pereira, condenou o negócio. "Se comprovado que ele recebeu um presente, uma doação de uma empresa privada, evidentemente há quebra da ética partidária", disse Berzoini em São Paulo. "Principalmente porque (o carro) sequer teria sido para campanha eleitoral - se confirmado - mas teria sido algo para benefício pessoal, o que é muito grave".

O secretário de Organização - por sinal, o cargo que Silvio ocupou antes de se tornar secretário-geral -, Gleber Naime, foi mais radical: "Se confirmada, uma denúncia como essa pode levar o dirigente até à expulsão do partido, é evidente."

O líder do PSB, Renato Casagrande, também se mostrou favorável a uma punição. "Tudo aponta para um grave delito, que é um benefício pessoal. Isso criará dificuldade para ele e obrigará o PT a tomar medidas. E a Justiça terá de acioná-lo para ele ressarcir os cofres públicos."